Ao insistir em um sistema alternativo de pagamento ao dólar, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) posicionou o Brasil em rota de colisão com os Estados Unidos e estimulou comentários do presidente Donald Trump que fortalecem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que atualmente é réu em processo por suposto golpe de Estado, e o grupo político dele.
Na declaração final da Cúpula do Brics, neste domingo (6), o bloco criticou a tarifa adicional de 10% aventada por Trump para países que estejam alinhados ao grupo e defendeu a Iniciativa de Pagamentos Transfronteiriços do Brics, uma modalidade de pagamento que seria alternativa à moeda americana.
Ao comentar a questão, Lula disse que Trump “ameaçava o mundo pela internet” e que se portava como um “imperador”. “Eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da República de um tamanho de um país como os EUA ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou, não queremos imperador”, disse o petista a jornalistas no domingo.
A reação de Trump veio com a defesa de Bolsonaro. Nesta segunda-feira (7), o republicano disse que o Estado brasileiro realiza uma “perseguição” contra o ex-presidente, sua família e seus apoiadores. Também afirmou que acompanhará a situação de “muito perto” e que o “único julgamento que deveria estar acontecendo é um julgamento pelos eleitores do Brasil”.
Para o cientista político Thales Castro, presidente do Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia (Iperid), o discurso antiamericano adotado pelo Brasil junto ao Brics beneficia diretamente o ex-presidente e seus apoiadores.
“Esse posicionamento antiamericano de fato favorece [Bolsonaro]. Eu diria até mais, de maneira ampla, não tão especificamente o ex-presidente Bolsonaro, mas [o grupo político] como um todo, porque é o contraponto”, explicou Castro.
Logo após a declaração de Trump sobre Bolsonaro, Lula disse que não iria comentar sobre o assunto, pois tem “coisa mais importante” para falar. “Esse país tem lei, tem regra e esse país tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida e não na nossa”, disse o petista em coletiva de imprensa durante a Cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro.
Já Bolsonaro agradeceu ao presidente dos Estados Unidos pelo apoio. “Este processo ao qual respondo é uma aberração jurídica, clara perseguição política, já percebida por todos de bom senso”, escreveu o ex-presidente nas redes sociais. “Agradeço ao ilustre presidente e amigo. Vossa Excelência passou por algo semelhante. Foi implacavelmente perseguido, mas venceu para o bem dos Estados Unidos”, afirmou o político do PL.
Aproximação de Lula com ditaduras causa posicionamento antiamericano e isola o Brasil
O posicionamento antiamericano do governo brasileiro tem gerado efeitos colaterais tanto no cenário internacional quanto na política interna. Para o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), essa postura “afasta o Brasil do bloco das democracias liberais capitaneado pelos Estados Unidos e o aproxima do bloco sino-russo [China e Rússia], o bloco das ditaduras consorciadas”.
Segundo ele, o Brics, grupo do qual o Brasil faz parte, “acabou tomando muito mais essa conformação do que qualquer outra coisa”. O bloco é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Gomes também aponta a fragilidade estrutural do Brics, que, em sua visão, depende cada vez mais da China. “O Brics não tem uma lógica de estrutura fundamental. Ele não é uma organização internacional, é uma cúpula de líderes. Não tem poder vinculante.” Ele destaca ainda que “os outros países-membros estão passando por momentos difíceis”, citando a guerra da Rússia, as sanções contra Putin e a instabilidade do Irã após ações militares de Israel e dos EUA.
Na política doméstica, o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, vê no antiamericanismo de Lula uma oportunidade desperdiçada e um erro estratégico. “O antiamericanismo de Lula não é só um erro diplomático — é um presente embrulhado para a direita brasileira.” Para ele, ao “preferir confraternizar com ditaduras e atacar democracias liberais”, o presidente acaba “empurrando o eleitorado moderado direto para os braços de quem defende valores ocidentais”.
Arruda conclui com uma crítica direta à visão de mundo do atual governo: “Lula finge que vive nos anos 70, mas o Brasil de 2026 será definido por quem entende o mundo de hoje — e quem sabe que valores como liberdade, propriedade e segurança ainda importam”, salienta.
Sistema de pagamento do Brics não faz frente ao Swift
O comunicado final dos ministros de Finanças e presidentes dos Bancos Centrais dos Brics cita que houve progresso na identificação de possíveis caminhos para a interoperabilidade dos sistemas de pagamentos dos países do bloco. Ou seja, um sistema que visa substituir o dólar como moeda de transação entre os membros.
“Incumbimos nossos ministros de finanças e governadores de bancos centrais, conforme apropriado, a continuar a discussão sobre a Iniciativa de Pagamentos Transfronteiriços do BRICS, e reconhecemos o progresso feito pela Força-Tarefa de Pagamentos do BRICS (BPTF em inglês) em identificar possíveis caminhos para apoiar o seguimento das discussões sobre o potencial para maior interoperabilidade entre sistemas de pagamento do BRICS”, afirma os países membros no documento.
Apesar de não detalhar os avanços no sistema de pagamentos em moedas locais, o documento cita esforços como o relatório “Sistema de Pagamentos Transfronteiriços do Brics”, elaborado pelo Banco Central do Brasil. O documento lista as preferências dos países do bloco para facilitar “pagamentos transfronteiriços rápidos, de baixo custo, mais acessíveis, eficientes, transparentes e seguros”.
A iniciativa tem como objetivo substituir o Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), o principal sistema de comunicação bancária do mundo. Quando um banco precisa enviar dinheiro para outro banco em um país diferente, ele usa o sistema Swift para enviar uma mensagem segura e padronizada com as instruções de pagamento. O discurso do bloco ganhou tração quando a Rússia foi retirada do Swift, em 2022, após a invasão à Ucrânia.
Thales Castro alerta para os riscos diplomáticos de apostar em sistemas financeiros alternativos ao modelo ocidental. Ele relembra o contexto da exclusão da Rússia do Swift, após a invasão à Ucrânia, e quando a China apresentou o CIPS como alternativa. No entanto, segundo ele, o alcance do sistema chinês é bastante limitado. “O sistema CIPS, efetivamente, é muito residual, ele é muito restrito e não tem o alcance que o sistema Swift tem, tinha e vai continuar tendo para os próximos anos.”
Castro destaca que o Swift, criado nos anos 1970 e sediado na Bélgica, permanece como o padrão global para transações financeiras. “O Swift é amplamente aceito”, afirma. Para ele, a tentativa de se afastar desse sistema dominante pode gerar custos diplomáticos significativos para o Brasil, especialmente ao se alinhar com países que buscam alternativas fora do eixo das democracias liberais.
Apoio de Trump a Bolsonaro mobiliza oposição
A publicação de Donald Trump em defesa de Jair Bolsonaro foi celebrada por lideranças da oposição brasileira. A manifestação foi vista como um gesto simbólico de apoio internacional e um reforço ao posicionamento de que o ex-presidente é alvo de perseguição política.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) afirmou que a fala de Trump não será a única novidade vinda dos EUA. “Muita gente me telefonando, mas não podemos passar mais detalhes sobre isso. O que posso dizer é que esta não será a única novidade vinda dos EUA neste próximo tempo”, disse. Atualmente, o parlamentar se encontra exilado nos Estados Unidos.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi direto: “Com a palavra, presidente Donald Trump. Jair Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente!”, afirmou o político do Republicanos.
Na Câmara, o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciou que defenderá uma moção de apoio a Trump pela defesa de Bolsonaro. “Hoje, estamos protocolando uma Moção Oficial de Apoio ao Presidente Trump, em nome da verdade, da democracia e da aliança entre conservadores que não se curvam ao sistema”, salientou. Para ele, “Trump não defendeu apenas Bolsonaro. Ele defendeu o direito do povo brasileiro de escolher seus líderes — nas urnas, não em tribunais aparelhados.”
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também agradeceu ao presidente dos EUA pelo apoio a Jair Bolsonaro. “Obrigado, presidente Donald Trump. Sempre em defesa da democracia e da liberdade de expressão!”, disse. Segundo ele, “não se trata de justiça, se trata de uma verdadeira caça às bruxas contra quem ousou enfrentar o sistema e governar pelo povo.”
Já o deputado Filipe Barros (PL-PR) afirmou que a fala de Trump “escancara aos quatro cantos do planeta as injustiças sem precedentes que estão sendo executadas no Brasil contra Jair Bolsonaro”. Ele ainda destacou o papel de Eduardo Bolsonaro na articulação internacional. “Graças ao intenso trabalho do Eduardo Bolsonaro, Trump também reverbera ao mundo que, em 26, eleição sem Bolsonaro é a consumação do atentado hoje em curso contra a democracia do País.”
A deputada Carol De Toni (PL-SC) resumiu o sentimento da oposição: “Mais do que um alerta: é o reconhecimento internacional de que há algo profundamente errado acontecendo por aqui”, destacou.
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