Em maio de 2022, os governos da Bélgica, Dinamarca, Alemanha e Países Baixos anunciaram ao mundo ter encontrado o “maior tesouro subaquático da Europa”. Mas engana-se quem pensa que a descoberta refere-se a um baú recheado de moedas de ouro espanhol.
O achado, na verdade, promete trazer uma nova realidade ao desenvolvimento energético do Velho Continente.
O protagonista desta iniciativa é o Mar do Norte que, por muito tempo, simbolizou a dependência europeia dos combustíveis fósseis. Suas águas rasas e ventos fortes, antes vistos como obstáculos à navegação, agora se tornam aliados na transição para a energia limpa.
Essas características serão fundamentais para a construção de um moderno complexo de parques eólicos e marítimos, com capacidade para produzir 45 mil toneladas de hidrogênio verde por ano.
Essa quantidade é suficiente para abastecer milhões de casas europeias e impulsionar a transição energética na União Europeia (UE). O objetivo é diminuir a dependência do continente de combustíveis fósseis e do gás natural da Rússia, país que vem sofrendo sanções da UE desde a invasão à Ucrânia.
Acordo europeu marca novo passo rumo à energia limpa
O projeto verde dos quatro países foi oficializado há três anos, com a assinatura da Declaração de Esbjerg — acordo político multilateral que prevê uma estrutura pioneira de geração de energia eólica situada entre as costas da Noruega e da Dinamarca ao leste, a costa da Grã-Bretanha ao oeste e a Alemanha, Países Baixos, Bélgica e França ao sul.
“A UE deve se tornar independente dos combustíveis fósseis russos o mais rápido possível. A melhor forma de avançar é que os países europeus trabalhem juntos para aumentar e acelerar o desenvolvimento das energias renováveis no Mar do Norte”, afirmou o ministro de Clima e Energia da Dinamarca, Dan Jørgensen, em 2022, antes de o país assinar a Declaração de Esbjerg.
Energia limpa: o que é o hidrogênio verde?
O hidrogênio verde é uma fonte de energia limpa, produzida a partir da eletrólise da água, processo em que a eletricidade sustentável — seja ela solar ou, como no caso do projeto de Esbjerg, eólica — divide moléculas de água e as transforma em oxigênio e hidrogênio, substituindo o combustível fóssil no abastecimento de residências e indústrias.
“Juntos, estabelecemos metas combinadas ambiciosas para a energia eólica offshore de pelo menos 65 GW até 2030. Com uma ‘usina verde na Europa’, pretendemos dobrar nossa capacidade total de energia eólica para pelo menos 150 GW até 2050”, explica a declaração conjunta dos países que assinaram o tratado em Esbjerg.
O valor representa metade da capacidade necessária para alcançar a neutralidade climática da UE, de acordo com um relatório da Comissão Europeia para as Energias Renováveis Offshore (termo em inglês que refere-se ao vento que sopra do continente para o mar).
Entraves e desvantagens do projeto de energia limpa
As nações que lideram a iniciativa no Mar do Norte ainda não deram uma estimativa de quanto os projetos na região vão custar à União Europeia. Atualmente, a produção de hidrogênio verde no continente continua a ser limitada, uma vez que apenas a capacidade mínima prevista avançou para além das fases iniciais.
Entraves como questões técnicas, obstáculos regulatórios, altos custos, desafios logísticos e adequação das legislações de cada um dos países podem emperrar o início do projeto. Empresas como Bosch, Siemens e Thyssenkrupp, gigantes europeias e que têm interesse no mercado de hidrogênio verde, pediram “mudanças urgentes” na regulamentação e nos critérios que definem a certificação dessa indústria.
Mas a Europa tem pressa. Os próximos cinco anos, inclusive, serão cruciais para a ação climática no planeta Terra. Segundo acordado em 2023 durante a COP 28, as emissões de gases do efeito estufa devem ser reduzidas em 43% para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
Os países componentes do acordo, muitos deles da Europa, se comprometeram a triplicar a capacidade mundial de energia renovável — e o hidrogênio verde deve ter papel fundamental para que a meta seja atingida.
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