O suíço-italiano Gianni Infantino, presidente da Fifa, é um notório bajulador de líderes dos países que sediam os eventos da entidade máxima do futebol mundial: em 2018, por exemplo, bateu bola no Kremlin com Vladimir Putin, ditador da Rússia, país que sediou a Copa do Mundo daquele ano.
Nesse sentido, Infantino buscou uma proximidade tão grande com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que a relação entre ambos está sendo chamada de “bromance” – um trocadilho que junta “irmão” e “romance” em inglês e que designa uma amizade tão forte entre dois homens que chega a parecer um namoro.
Os Estados Unidos sediarão, junto de México e Canadá, a Copa do Mundo de 2026, a primeira com 48 times.
Desde que Trump voltou à Casa Branca, em janeiro, Infantino vem fazendo de tudo para agradar o presidente republicano. O sorteio dos grupos do Mundial, que será realizado em dezembro, foi marcado para o Kennedy Center, em Washington, porque, segundo o site The Athletic, o presidente da Fifa queria facilitar o deslocamento de Trump para o evento.
Vários dirigentes da Fifa preferiam Las Vegas, que foi palco do sorteio na primeira vez que os Estados Unidos sediaram a Copa do Mundo, em 1994.
Os agrados de Infantino a Trump não pararam por aí. A Fifa abriu um escritório na Trump Tower, sede do grupo empresarial do presidente em Nova York, preterindo outro escritório que havia cogitado no Empire State Building.
Na final do Mundial de Clubes, realizado nos Estados Unidos entre junho e julho deste ano, Infantino permitiu que o presidente permanecesse no pódio enquanto os jogadores do Chelsea (campeão do torneio) erguiam a taça, o que gerou estranhamento entre os atletas do time inglês.
Para completar, Trump levou para a Casa Branca o troféu original do Mundial de Clubes (o Chelsea ficou com uma réplica) e uma medalha de campeão.
Durante o torneio, Infantino levou à Casa Branca os jogadores do time italiano Juventus, que ficaram fazendo figuração enquanto Trump concedia uma entrevista coletiva no Salão Oval.
O republicano gosta da bajulação do dirigente e em maio, quando ambos estiveram na Arábia Saudita e no Catar, ele chamou Infantino de “cara excelente”.
A viagem desagradou outros cartolas da Fifa, porque fez o presidente da federação chegar atrasado para o congresso anual da entidade, realizado no Paraguai: vários dirigentes europeus deixaram o evento em protesto.
Temas geopolíticos deixam relação Trump-Infantino na berlinda
Um problema para Infantino é que questões geopolíticas estão desafiando sua “amizade” com Trump. O presidente americano tem afirmado que cogita tirar jogos da Copa de cidades governadas pela oposição democrata, alegando falta de segurança.
A princípio, Infantino colocou um dos vice-presidentes da federação, Victor Montagliani, para responder ao republicano.
“O torneio é da Fifa, a jurisdição é da Fifa, a Fifa toma essas decisões [sobre escolha de cidades-sedes]”, disse Montagliani, durante uma conferência em Londres.
“Com todo o respeito aos atuais líderes mundiais, o futebol é maior do que eles e sobreviverá aos seus regimes, aos seus governos e aos seus slogans. Essa é a beleza do nosso esporte, ele é maior do que qualquer indivíduo e maior do que qualquer país”, complementou.
Porém, quando Trump insistiu na ameaça, Infantino decidiu desautorizar seu vice: em nota enviada à emissora Sky News, a Fifa afirmou que o presidente americano tem poder para retirar partidas de cidades democratas.
“A segurança é obviamente responsabilidade dos governos, e eles decidem o que é melhor para a segurança pública. Esperamos que cada uma das nossas 16 cidades-sedes esteja pronta para sediar com sucesso e atender a todos os requisitos necessários”, disse a federação.
Outro motivo de preocupação para Infantino na relação com Trump surgiu no final de setembro, quando um grupo de especialistas na área de direitos humanos pediu que Israel seja banido de torneios internacionais de futebol, devido à guerra na Faixa de Gaza.
Prevendo que considerar o assunto poderia irritar Trump, Infantino prontamente rejeitou a ideia. “A Fifa não pode resolver problemas geopolíticos, mas pode e deve promover o futebol ao redor do mundo, aproveitando seus valores unificadores, educacionais, culturais e humanitários”, desconversou.
Outro atrito, cuja solução ainda não foi anunciada, é que, segundo informações do jornal Tehran Times, o governo Trump não emitiu vistos para Mehdi Taj, presidente da Federação Iraniana de Futebol, e Amir Ghalenoei, técnico da seleção nacional, além de outros sete membros da federação, para participarem do sorteio da Copa de 2026.
O jornal em inglês, que se dedica à cobertura de assuntos do Irã, relatou que Infantino garantiu aos iranianos no início de setembro que resolveria a questão, mas não se sabe qual será sua reação caso Trump realmente se recuse a conceder os vistos.
Por ora, o “bromance” continua. Na segunda-feira passada (13), Infantino participou de uma cúpula pela paz na Faixa de Gaza realizada no Egito que foi presidida por Trump, e disse que a Fifa ajudará na reconstrução do enclave palestino.
“Ajudaremos a reconstruir todas as instalações de futebol em Gaza, traremos de volta o futebol junto da Associação Palestina de Futebol e criaremos oportunidades para crianças por meio do esporte”, declarou, segundo informações da BBC.
Não foi a primeira vez que Infantino recorreu à guerra no Oriente Médio para agradar Trump: antes que o Nobel da Paz fosse concedido à opositora venezuelana María Corina Machado, o presidente da Fifa escreveu no Instagram que o mandatário americano deveria receber o prêmio.
“O presidente Donald J. Trump definitivamente merece o Prêmio Nobel da Paz por suas ações decisivas”, exultou.
Com a certeza de que outros assuntos geopolíticos espinhosos surgirão no noticiário até 11 de junho de 2026, data em que a Copa do Mundo terá início, resta saber se a relação Trump-Infantino continuará pacífica e cheia de elogios mútuos até lá.
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