Maior potência da agropecuária brasileira, o estado do Mato Grosso pode perder um dos principais parceiros comerciais para a exportação da carne bovina, caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mantenha a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros – anúncio que impactou o país nesta semana.
Após o anúncio do republicano, o setor pecuário aponta que existe risco de que as relações comerciais entre o mercado americano e o maior produtor de carne do país sejam travadas pela inviabilidade dos preços para comercialização. “Essa tarifa retira o nosso produto da concorrência. A nova taxação colocaria o preço da tonelada da nossa carne em cerca de US$ 8,6 mil, inviabilizando qualquer comercialização para o mercado americano”, afirma Oswaldo Pereira Ribeiro Junior, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Na avaliação dele, o impacto econômico exige uma resposta imediata do governo brasileiro para reverter o cenário por meios diplomáticos. “Acreditamos na soberania nacional, mas acreditamos principalmente no bom senso e na pacífica negociação antes de se tomarem medidas intempestivas que podem levar a resultados desastrosos para nossa economia”, alerta.
Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), o estado exportou 26,5 mil toneladas de carne bovina para os Estados Unidos entre janeiro e maio deste ano, que corresponde a 7,2% do comércio mato-grossense com destino ao exterior. A receita alcançou US$ 102 milhões, com a tonelada vendida, em média, por US$ 3.842.
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Mato Grosso bate recorde de abate
Em junho, Mato Grosso registrou um volume recorde de abates. De acordo com o Imea, os frigoríficos do estado processaram 613,15 mil cabeças de gado ao longo do mês. O estado segue como protagonista na pecuária nacional e detém o maior rebanho bovino do país, com 32,8 milhões de cabeças, e responde por 20,5% das exportações brasileiras de carne bovina.
Nas exportações, Mato Grosso divide o protagonismo com São Paulo. Os estados que mais exportaram carne bovina no último trimestre foram São Paulo, com 145 mil toneladas, responsável por 21,7% do total; Mato Grosso, Goiás (12%) e Mato Grosso do Sul (11,1%).
No mesmo período, as vendas externas de carne bovina de Mato Grosso alcançaram 68,08 mil toneladas em equivalente carcaça (TEC), segundo o Imea. O faturamento com as exportações somou US$ 289,76 mil em junho.
Esse resultado impulsionou o acumulado no primeiro semestre de 2025. Ao todo, o estado arrecadou US$ 1,46 milhão com as exportações de carne bovina. Em volume, Mato Grosso embarcou 368,81 mil toneladas nos primeiros seis meses do ano — um crescimento de 5,72% em relação ao mesmo período de 2024.
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Carne bovina passa a integrar grupo dos 10 produtos mais exportados para os EUA
Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), as exportações brasileiras de carne bovina passaram a ocupar a décima posição na lista dos principais produtos exportados para os Estados Unidos em 2024, substituindo a madeira parcialmente trabalhada. As vendas de carne bovina totalizaram US$ 943 milhões em 2024, o que representa um aumento de 103,5% em comparação com 2023.
O volume exportado acompanhou essa tendência de alta, registrando um crescimento de 93,8%. De acordo com o relatório da Amcham, houve uma maior demanda nos EUA, que se somou a uma queda no abate de bovinos no próprio país norte-americano.
A diminuição da produção de carne bovina nos EUA, por sua vez, foi uma consequência direta da seca que afetou severamente a qualidade dos pastos, especialmente na região do meio-oeste, e resultou na redução do rebanho americano, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
A carne bovina é citada como um dos seis produtos da indústria de transformação que tiveram crescimento significativo entre os dez principais itens exportados para os EUA, reforçando a diversidade e a força do setor industrial brasileiro no comércio com os Estados Unidos.
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A receita de sucesso da carne bovina do Mato Grosso
Enquanto outros estados se adaptam às exigências globais, Mato Grosso opera dentro dos padrões de rastreabilidade com investimentos em tecnologia e boas práticas. A capacidade de rastrear a origem do produto desde a fazenda até o consumidor final confere uma vantagem competitiva.
“O Mato Grosso tem posição de destaque porque é o estado com o maior rebanho, com produtores tecnificados e com propriedades que conseguem entregar um volume de animais jovens e pesados. Há também uma facilidade logística conquistada. Por conta de todos esses fatores produtivos, o Mato Grosso está habilitado a exportar para mais de 80 mercados”, afirma o diretor do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), Bruno de Jesus Andrade.
Uma em cada cinco toneladas de carne bovina exportadas pelo Brasil sai de frigoríficos de Mato Grosso. Segundo o instituto, além disso, mais de 80% da produção tem rastreabilidade. A exigência só será obrigatória no país em 2032 e a antecipação abriu portas estratégicas para o estado do Mato Grosso, que consolidou parcerias comerciais com China, Estados Unidos, Emirados Árabes e, mais recentemente, Bahamas.
“A rastreabilidade do rebanho mato-grossense existe há muitos anos. Mais de 99% das propriedades contam com geolocalização, ou seja, a gente sabe exatamente onde elas estão. Somado a isso, temos uma guia que é necessária para qualquer trânsito animal. É obrigatória mesmo que seja de uma propriedade para outra, do mesmo proprietário”, afirma Francisco de Salles Manzi, diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Se fosse um país, Mato Grosso ocuparia a nona posição entre os maiores exportadores de carne bovina do mundo, segundo o USDA. Em 2024, o estado produziu 1,7 milhão de toneladas, abateu 6,6 milhões de animais e respondeu por 17,1% da produção nacional, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Maiores produtores de carne bovina do mundo:
- Estados Unidos: 12,3 milhões de toneladas
- Brasil: 11,8 milhões de toneladas
- China: 7,8 milhões de toneladas
- União Europeia: 6,6 milhões de toneladas
- Índia: 4,6 milhões de toneladas
- Argentina: 3,1 milhões de toneladas
- Austrália: 2,6 milhões de toneladas
- México: 2,3 milhões de toneladas
- Rússia: 1,4 milhão de toneladas
- Canadá: 1,3 milhão de toneladas
Fonte: USDA, 2025
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Entre janeiro e maio foram 7,3 milhões de cabeças abatidas, com destaque para maio, quando mais de 553 mil bois foram processados. A expectativa é de novos saltos, impulsionados pela abertura de mercados e pela diversificação dos produtos exportados.
“Nesse momento passamos a uma valorização da arroba do boi gordo, possivelmente chegaremos ao tempo da redução da oferta do animal pra abate e isso deve se manter por um ou dois anos e aí teremos uma recomposição do rebanho e vamos ter crescimento na oferta para abate”, explica Andrade.
No mês passado, a União Econômica Euroasiática — bloco formado por Rússia, Belarus, Cazaquistão, Armênia e Quirguistão — autorizou a importação de subprodutos bovinos brasileiros para uso farmacêutico. Retina, cartilagem escapular, ovários e outras partes passaram a integrar a pauta de exportação.
“A União Econômica Euroasiática representa um mercado de 185 milhões de habitantes e tem ampliado sua demanda por insumos farmacêuticos de origem animal. Essa nova autorização faz parte da estratégia de diversificação da pauta exportadora, com o objetivo de reduzir a dependência de poucos países compradores e ampliar o alcance global dos nossos produtos”, afirma o diretor do Imac.
Embora o grande volume de embarque seja da carne congelada e refrigerada, a exportação de subprodutos e miúdos incrementou a renda do produtor. “Acaba valorizando a produção local. É uma receita adicional às indústrias frigoríficas e aos produtores. Não é a principal fonte, mas significa bastante”, completa.

Menos de 1% do rebanho nacional é rastreado individualmente
O Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos, lançado em dezembro de 2024, exige o início do monitoramento de cada animal até o ano de 2032. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), menos de 1% do rebanho é rastreado individualmente: o IBGE aponta que o Brasil tem 239 milhões de cabeças de gado.
A CNA cita três obstáculos: custo das tecnologias, falta de padrão entre estados e medo dos produtores sobre o uso dos dados. “Nós gostaríamos que o plano fosse voluntário. Mas a exigência de forma paulatina, com tempo para adaptar-se ao sistema, a gente entende que é plausível. Não quer dizer que vamos demorar todo o tempo proposto”, projeta Francisco Manzi, diretor técnico da Acrimat.
No Mato Grosso são 129 mil propriedades, de acordo com Manzi. “É fundamental que seja feito de forma correta, segura, para que o produtor possa se adaptar. Uma antecipação para estar à frente não é produtivo, é necessário fazer de forma organizada”.
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