CARLOS VILLELA
PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A isenção de tarifas para quase 700 produtos exportados para os Estados Unidos deve ter pouco impacto para as empresas gaúchas, segundo a Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul).
O presidente da federação, Claudio Bier, disse nesta sexta-feira (1º) que, mesmo com as isenções, o Rio Grande do Sul é o estado mais prejudicado pelo tarifaço anunciado pelo governo de Donald Trump: 85,7% das exportações do estado ficaram de fora da medida.
“São 140 mil postos de trabalho que podem ter seus empregos abalados”, disse Bier. “As indústrias precisam de um fôlego porque, enquanto persistir essa tarifa de 50%, elas vão ter que procurar outros mercados, ou até um mercado nacional. Vão ter que se reinventar.”
O coordenador do Conselho de Relações Trabalhistas da Fiergs, Guilherme Scozziero, disse que a federação, junto à CNI (Confederação Nacional da Indústria), vai propor ao governo federal medidas semelhantes às que já foram utilizadas na pandemia e após as enchentes de maio, como a suspensão de contratos de trabalho, para evitar um cenário de demissões em massa.
“Existem férias coletivas, existem bancos de horas, mas isso tudo tem um tempo muito limitado”, disse Scozziero, que defende ações mais amplas como forma de preservar postos de trabalho.
“Se não vierem medidas de apoio a essas indústrias atingidas, medidas realmente efetivas de suspensão de contrato de trabalho, de redução de jornadas e salários, nós vamos sim, depois disso, ter um desemprego muito grande.” Ainda assim, para Scozziero, demitir é a última alternativa considerada. “As indústrias partem sempre por uma maneira de atenuar os impactos”, disse.
A indústria gaúcha teve resultado positivo em 2024, pequena alta de 0,6% em comparação ao ano anterior. O resultado surpreendeu até os industriários, que enfrentaram um ano quase inteiro no vermelho após interrupções de produção e problemas logísticos causados pelas enchentes.
Com o tarifaço, a projeção inicial do governo gaúcho era de uma perda de R$ 1,9 bilhão no PIB do Rio Grande do Sul. Após a lista de itens isentos, a estimativa foi revisada para R$ 1,5 bilhão.
O governador Eduardo Leite (PSD) anunciou a liberação de R$ 100 milhões em crédito para as empresas exportadoras do Rio Grande do Sul, disponíveis a partir desta segunda-feira (4). A Fiergs já pediu ao governo de Eduardo Leite (PSD) que esse valor seja, no mínimo, dobrado.
O segmento mais vulnerável é o de produtos de metal, que exportou US$ 324,9 milhões para os Estados Unidos em 2024, o equivalente a 35,8% do total das exportações do setor.
Dentre esses produtos estão caldeiras, tanques, facas e embalagens metálicas como latas, além de ferramentas e objetos de serralheria, forja e funilaria.
A Taurus, maior empresa de armas no país, exportou 85,9% da produção -cerca de US$ 170,2 milhões- para os Estados Unidos.
Logo atrás vem o setor de máquinas e materiais elétricos, com exportações de US$ 114,6 milhões, o que representa 42,5% do total.
Outro grupo impactado é o calçadista: 19,4% de sua produção, o equivalente a US$ 176,2 milhões, seguiu para o mercado americano. Como muitos produtos são fabricados sob a bandeira de marcas dos próprios Estados Unidos, o setor deve enfrentar dificuldades ainda maiores na tentativa de redirecionar vendas a outros mercados.
Contudo, encontrar novos compradores em um prazo tão curto é um desafio. “Não se faz um mercado exportador de uma hora para outra”, disse Bier.
Para o presidente da Fiergs, o caminho é intensificar o diálogo da diplomacia brasileira com o governo dos Estados Unidos e evitar retaliações, que poderiam elevar o custo de produtos importados do país e afetar outros segmentos da indústria nacional.
Também há temor de represálias, segundo Bier, é da imprevisibilidade de Trump.
“Nós vamos cutucar um leão com vara curta. Os Estados Unidos têm um presidente que, quando ele é fustigado, aumenta ainda mais sua raiva e sua maneira de agir. Acho que temos que ter muita paciência, muito diálogo”, disse Bier.
Ele evitou comentar sobre os argumentos políticos do governo americano para implementar o tarifaço, como as críticas às ações do ministro do STF Alexandre de Moraes no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos réus nos atos de 8 de janeiro de 2023. “Nós tomamos uma posição no início dessa crise de não nos metermos politicamente de lado nenhum, justamente para que a indústria possa ser um mediadora dessa crise.”
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