Os dados do índice de preço ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro devem ser divulgados nesta sexta-feira, às 9h30 (horário de Brasília), sendo o primeiro dado de grande relevância desde o início do shutdown do governo dos Estados Unidos, que passa a entrar em seu 24º dia.
A publicação ganha ainda mais relevância com a notícia do Wall Street Journal de que dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não possuem acesso aos dados do ADP (dados privados de emprego) desde agosto, levando a ainda menos referências de dados econômicos.
O governo paralisou em 1º de outubro depois que o financiamento foi interrompido, atrasando a divulgação do relatório de emprego de setembro, que deveria ter sido divulgado no último dia 15.

“A divulgação permite que a Administração da Previdência Social cumpra os prazos legais necessários para garantir o pagamento preciso e oportuno dos benefícios”, disse o Escritório de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos em um comunicado publicado em seu site.
Para a Convera, o dólar está desancorado sem novos dados sobre a economia norte-americana, enquanto investidores acompanham a divulgação de balanços corporativos como uma “referência” da força econômica. “Essa resiliência continua sendo a esperança do dólar, sugerindo que os ganhos recentes podem evoluir para uma alta mais sustentada assim que os dados da economia real voltarem aos holofotes”, pondera a análise.
Contudo, aponta o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, “se o CPI não vier mais forte amanhã e com corte de juros pelo Fomc na próxima quarta-feira, não seria surpresa o real voltar a subir e (o dólar) se aproximar de R$ 5,30 novamente”. Nesta quinta, o dólar negociava a R$ 5,38.
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O Goldman Sachs espera um aumento de 0,25% no núcleo do CPI de setembro (contra consenso de +0,3%), o que corresponde a uma taxa anual de 3,05% (contra consenso de +3,1%). Para o CPI geral, projeta alta de 0,33% (contra consenso de +0,4%), refletindo preços mais altos de alimentos (+0,25%) e energia (+1,5%). “Nossa previsão é consistente com um aumento de 0,21% no núcleo do PCE, medida de inflação preferida do Federal Reserve, em setembro”, afirmam os economistas.
O banco destaca quatro tendências principais que espera ver no relatório:
- Preços de carros usados devem permanecer estáveis, conforme indicam os preços em leilões, e preços de carros novos devem subir modestamente, refletindo pressão para baixo nos preços ao consumidor devido a incentivos maiores dos concessionários.
2. O Goldman projeta aumento de 0,3% na categoria de seguro de automóveis, com base nos prêmios em nosso conjunto de dados online.
3. A projeção é de queda de 1,5% nas tarifas aéreas em setembro, refletindo o fim do impulso sazonal e queda nas tarifas subjacentes, segundo acompanhamento de dados de preços online.
4. A expectativa é de pressão de alta devido a tarifas em categorias particularmente expostas, como comunicação, móveis para casa e recreação, contribuindo com +0,07 ponto percentual para a inflação núcleo.Nos próximos meses, o banco espera que as tarifas continuem elevando a inflação mensal, prevendo inflação mensal do núcleo do CPI em torno de 0,2% a 0,3%. Além dos efeitos das tarifas, espera que a inflação subjacente continue caindo, refletindo a redução das contribuições dos mercados de aluguel residencial e trabalho. Projetamos inflação anual do núcleo do CPI de +3,1% em dezembro de 2025 e inflação do núcleo do PCE de +3,0% (ou +2,2% para ambas as medidas excluindo os efeitos das tarifas).
Impacto em Wall Street
A expectativa pelos dados do CPI é grande – contudo, os investidores em ações dos EUA podem ignorar qualquer sinal de inflação persistente apresentados na sexta, segundo a visão da mesa de operações do JPMorgan Chase & Co. Isso porque o mercado está dominado pelo otimismo em relação a um esperado corte de juros pelo Federal Reserve na próxima semana.
A mesa vê cerca de 65% de chance de o índice S&P 500 avançar após a divulgação, apesar das expectativas de um número elevado. A equipe, incluindo Andrew Tyler, apresentou cenários para o dia do CPI que são “menos voláteis do que o usual”, com a expectativa dos investidores de que o Fed reduzirá os juros em 29 de outubro, o que deve compensar qualquer preocupação relacionada à inflação.
“Concordamos com a visão do mercado e acreditamos que seria necessário um risco extremo para que o Fed fique inerte”, escreveu Tyler, chefe de inteligência global de mercado do JPMorgan, em nota aos clientes na quarta-feira.
De acordo com o consenso Bloomberg, a projeção é de alta de 0,3% no núcleo do CPI de setembro, que exclui os componentes mais voláteis de alimentos e energia, em relação ao mês anterior, segundo pesquisa da Bloomberg. Isso deixaria a inflação anual em 3,1%, em linha com o mês anterior e acima da meta do Fed.
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Um resultado em linha ou mais baixo que o esperado provavelmente impulsionará o S&P 500 em até 1,5% na sexta-feira, segundo Tyler e equipe. Por outro lado, um número elevado, com inflação núcleo subindo mais de 0,4% em relação a agosto, pode provocar queda de até 2,3%. O índice de ações dos EUA subiu na quinta-feira, na véspera do dia do CPI.
“É uma notícia já esperada, mas servirá como referência diante da falta de informações econômicas devido à paralisação do governo”, disse Stephanie Link, estrategista-chefe de investimentos e gestora de portfólio da Hightower Advisors. Ela vê qualquer volatilidade potencial dos dados como uma oportunidade de compra, diante da expectativa de cortes de juros, crescimento dos lucros e do quarto trimestre, que é o período mais forte do ano.
O índice geral deve subir 0,4% na base mensal e 3,1% em relação ao ano anterior, ligeiramente acima da leitura anual de agosto.
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Os profissionais de Wall Street apostam em dois cortes de juros ainda este ano, diante de sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, com um deles praticamente precificado para a próxima semana. No entanto, um cenário de inflação pior que o esperado na sexta-feira pode complicar as perspectivas para novos cortes no final do ano e em 2026.
“Um número mais alto pode fazer o Fed hesitar na reunião de dezembro”, disse Sameer Samana, chefe de ações globais e ativos reais do Wells Fargo Investment Institute. “Como o foco deles está no mercado de trabalho, que continua esfriando, um corte em outubro parece prudente. Mas depois disso, o cenário fica mais incerto, embora acreditemos que haverá corte também em dezembro.”
A alta das ações nos EUA tem perdido força após o S&P 500 subir 35% desde as mínimas de abril, com avaliações esticadas diante de um cenário econômico incerto e resultados mistos das empresas americanas.
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A leitura do CPI pode gerar alguma volatilidade adicional, mas provavelmente será compensada pela política monetária mais frouxa, segundo Samana, que recomenda aos clientes que ignorem o ruído e continuem comprando ações de qualidade. Ele afirma que os investidores entenderam que o Fed está limitado pelo esfriamento do mercado de trabalho, o que explica porque as recentes quedas nas ações americanas foram curtas e superficiais.
“Sabemos que o Fed disse que o foco agora é o emprego, mas se os dados do CPI forem muito diferentes do esperado, isso ainda pode impactar o pensamento deles”, disse Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak + Co LLC. “Portanto, terá grande impacto nos mercados se os números estiverem fora do consenso.”
Embora uma alta maior no CPI na sexta-feira dificilmente derrube as ações de forma significativa, pode provocar uma reversão na ampliação do mercado acionário que vem ocorrendo, disse ela.
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“Inflação mais alta limitaria a capacidade do Fed de afrouxar a política, o que seria um obstáculo para a ampliação e rotação do mercado de ações”, afirmou Seder. “Isso apoiaria a alocação para ações de alta qualidade, menos sensíveis a juros.”
(com Bloomberg, Reuters e Estadão Conteúdo)
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