As ações de empresas brasileiras voltadas ao mercado doméstico foram reavaliadas ao longo do segundo trimestre deste ano (2T25), com os investidores retomando o interesse em nomes que estavam fora dos holofotes no início do ano.
Segundo o relatório do JPMorgan, setores ligados ao consumo, especialmente o varejo de vestuário, se beneficiaram de um ambiente aquecido, o que elevou as expectativas para os resultados do 2T25. Entre os papéis que voltaram ao radar está Lojas Renner (LREN3), que teve melhora nas projeções e forte valorização.
Para os analistas do banco, à medida que os balanços financeiros são divulgados, o foco do mercado se desloca para o desempenho no terceiro trimestre (3T25), considerando que parte das vendas de inverno pode ter sido antecipada. O banco recomenda atenção aos comentários das empresas sobre os próximos meses, mais do que aos números fechados do trimestre atual.

No grupo de ações com recomendação de overweight (acima da média do mercado, equivalente à compra) estão Vivara (VIVA3), RD Saúde (RADL3) e Smart Fit (SMFT3), com expectativa de crescimento em lucro por ação (EPS, ou earnings per share) e valuation atrativo.
Por outro lado, o JPMorgan mantém recomendação de underweight (abaixo da média do mercado) para Magazine Luiza (MGLU3) e Pague Menos (PGMN3), citando alavancagem elevada e incertezas sobre a evolução dos lucros. O banco também mantém postura cautelosa em relação ao setor de alimentos, como Assaí (ASAI3), com recomendação neutra, devido à desaceleração na inflação de alimentos.
Assim, de olho no balanço do 2T25, mas com atenção já para o segundo semestre deste ano, o banco vê potencial de alta para LREN3 (Lojas Renner) e VIVA3 (Vivara) e potencial de baixa para MGLU3 (Magazine Luiza). Em suas estimativas revisadas, estão acima do consenso para o lucro por ação (LPA, ou EPS) projetado para 2026 de Lojas Renner e Vivara, embora parte desse aumento possa ser devido a mudanças contábeis em cada empresa.
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Por outro lado, estão cerca de 5% abaixo do consenso de LPA da Bloomberg para RADL3 mas, com base em suas conversas com investidores institucionais, os analistas do JPMorgan acreditam que esse consenso está defasado, enquanto o cenário de médio prazo permanece sólido, apesar dos resultados fracos persistirem até o 3T25.
Confira:
Além disso, vê queda nas expectativas de consenso para Magazine Luiza e, em menor grau, para Grupo Mateus, embora não tenha certeza se o consenso incorporou a joint venture com a Novo.
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O que esperar no segundo semestre
- Lojas Renner (LREN3)
A varejista de moda acumula valorização de 35% no ano, superando o Ibovespa em 25 pontos percentuais, segundo dados do JPMorgan. O desempenho de vendas e a alavancagem operacional ajudaram a elevar as projeções de lucro. Apesar disso, o banco alerta que o segundo semestre pode ser menos favorável. O 3T25 tende a ser mais exigente em termos de base de comparação, especialmente após as vendas antecipadas de inverno no 2T25, que devem mostrar crescimento de vendas mesmas lojas (SSS, ou same-store sales) de cerca de 16%. O papel negocia a nove vezes o lucro projetado para 2026, com potencial de valorização de 35% até o preço-alvo de R$ 22 por ação. - Vivara (VIVA3)
A joalheria é vista como uma boa opção para investidores que buscam crescimento a preço justo. O JPMorgan projeta crescimento de 11% ao ano nas receitas e 12% nos lucros, beneficiado pela expansão da marca Life e ganhos de eficiência na produção. A empresa negocia a 8 vezes o lucro de 2026, cerca de 30% abaixo da média do setor de varejo na América Latina. O preço-alvo foi elevado para R$ 31, com potencial de alta de 20%.
- Smart Fit (SMFT3)
Mesmo com instabilidades no México, que representa 15% da receita, o banco diz que a empresa mantém fundamentos atrativos. Diz, ainda, que o modelo de academias ainda tem espaço para expansão e apresenta crescimento estimado de 9% ao ano em receita, 23% em Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e 32% em lucro líquido nos próximos cinco anos. O papel negocia a 13 vezes o lucro estimado para 2026, com preço-alvo de R$ 35. - RD Saúde (RADL3)
A empresa farmacêutica enfrenta pressão de curto prazo por conta de perdas com furtos relacionados a medicamentos GLP-1 e investimentos em preços para manter a competitividade, afirma o banco em relatório. O JPMorgan, no entanto, avalia que as ações já precificam essas questões e que há espaço para revisão positiva dos lucros a partir do segundo semestre. A estimativa de crescimento no lucro por ação, segundo os analistas, segue praticamente inalterada, e o novo preço-alvo é de R$ 20, com expectativa de valorização de 40%. - Magazine Luiza (MGLU3)
O papel sofre com elevada alavancagem financeira e competição acirrada no comércio eletrônico. Embora a empresa esteja focada na melhoria de margens, os concorrentes seguem ganhando escala, diz o banco. O JPMorgan projeta que o índice dívida líquida sobre Ebitda deve continuar acima de cinco vezes no médio prazo. A ação negocia a 23 vezes o lucro projetado para 2025 e a 13 vezes para 2026, com valuation considerado caro. O banco reduziu o preço-alvo para R$ 6,50. - Pague Menos (PGMN3)
A rede de farmácias, aponta o banco, tem apresentado melhora operacional, com avanço de 17% em vendas mesmas lojas no trimestre e expansão de margem Ebitda de 70 pontos-base. Apesar disso, o JPMorgan vê riscos relacionados à alavancagem (três vezes dívida líquida sobre Ebitda), além da baixa visibilidade sobre lucros e fluxo de caixa. O valuation justo está entre R$ 2,50 e R$ 3, segundo o modelo de fluxo de caixa descontado. - Assaí (ASAI3)
Para os analistas do JPMorgan, o desempenho no ano foi favorecido pela expectativa de queda de juros e por melhora nas margens. Contudo, o banco aponta restrições comerciais devido ao foco da empresa na desalavancagem. A inflação de alimentos em queda pode prejudicar as projeções de crescimento. A ação negocia a onze vezes o lucro esperado para 2026 e o preço-alvo é de R$ 11,50. - Azzas 2154 (AZZA3)
Com valuation de nove vezes o lucro estimado para 2026, a empresa apresenta portfólio de marcas com espaço para expansão por meio de franquias e vendas on-line. A expectativa é de crescimento de 8% nas receitas, 11% no Ebitda e 18% no lucro líquido nos próximos cinco anos. O preço-alvo foi revisado para R$ 45 por ação. - Grupo Mateus (GMAT3)
Mesmo com liderança regional, a companhia enfrenta desaceleração no setor de alimentos. A parceria com a Novo, consolidada no 3T25, deve ajudar na escala e entrada em novas regiões, projeta o banco. O crescimento das vendas projetado é de 15% neste ano, com expansão orgânica de 13% ao ano até 2030. O papel negocia a onze vezes o lucro de 2026 e o preço-alvo é de R$ 9. - Alpargatas (ALPA4)
As operações no Brasil melhoraram após a chegada da nova gestão, que conseguiu resolver questões de estoque e recuperar a geração de caixa, segundo o banco. No exterior, o JPMorgan diz que a empresa busca reduzir riscos e abrir novas frentes de crescimento, como nos Estados Unidos. Ainda assim, para os analistas, a volatilidade operacional e margens apertadas limitam as projeções de lucro. O preço-alvo é mantido em R$ 9,50, com dividend yield estimado em 8%. - Natura (NATU3)
A companhia tem múltiplas frentes de crescimento, como a separação da Avon Internacional e o aumento da presença da marca Natura na América Latina. Os ganhos com eficiência de capital de giro e amortização de ágio fiscal podem melhorar os lucros, projetam os analistas. O problema é que, segundo eles, ruídos operacionais persistem e os resultados seguem instáveis. O papel negocia a nove vezes o lucro de 2026 e o novo preço-alvo é R$ 10,50. - CBD | Grupo Pão de Açúcar (PCAR3)
A companhia, diz o banco, tem melhorado suas operações, com vendas de ativos e revisão de portfólio. Mesmo com margem Ebitda esperada de 9% neste ano, a geração de caixa fraca e a alavancagem elevada (3,2 vezes Ebitda) seguem como obstáculos, segundo o banco. É por esse ângulo que o JPMorgan calcula valor justo entre R$ 2,50 e R$ 3 por ação, que, segundo os analistas, é com base em modelo de fluxo de caixa.
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