MARIANA BRASIL
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente eleito do PT, Edinho Silva, afirmou em seu discurso de posse neste domingo (3) que o partido precisa se preparar para se manter na disputa quando Lula não estiver mais no pleito.
“É nossa responsabilidade construir o PT quando o presidente Lula não estiver mais nas urnas disputando nosso projeto”, disse.
“O presidente Lula nos deixa um legado e ele será fundamental para o nosso partido para o resto da nossa existência, mas nos sabemos que todos os problemas enfrentados pelo PT, o presidente Lula foi para a sociedade, para as eleições e reconduziu o partido ao seu local de direito. Essas cenas, após 2026, até por direito ao descanso e para viver sua vida pessoal, não vamos mais ter”, declarou Edinho.
Para ele, é necessário que o partido se renove. Mas Edinho afirmou que o sucessor de Lula não será um nome específico, mas o partido como um todo.
“Seu substituto não será um nome, seu substituto será o Partido dos Trabalhadores. Porque se o partido estiver organizado, o nome será construído, a liderança será construída”, disse. “Teremos que construir um partido capaz de enfrentar grandes embates.”
Ainda em suas falas, ele falou da necessidade de se aproximar da juventude, de quem a sigla está afastada, segundo ele.
Edinho também citou o momento histórico da eleição do diretório neste ano, com menções a interferência estrangeira e ataque às instituições.
A ex-presidente do PT e ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, esteve presente no evento, onde foi fortemente aplaudida, com gritos de “a Gleisi foi pra gente uma excelente presidente”.
Outros ministros do governo filiados à sigla também compareceram, entre eles, Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Anielle Franco (Igualdade Racial), Luiz Marinho (Trabalho) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral).
Gleisi fez falas contra a interferência dos EUA no Brasil, a qual afirmou estar sendo causada pela família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ainda em seu discurso, a chefe das Relações Institucionais defendeu a chamada taxação BBB (bancos, bets e bilionários), discursou contra a guerra na Faixa de Gaza, puxou gritos contra a anistia e agradeceu nominalmente ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, pelos trabalhos no processo que mira os envolvidos no 8 de Janeiro.
“Temos uma luta maior também, ao lado de lutar contra as injustiças no Brasil, temos que lutar contra a intervenção estrangeira. Acho que ninguém nunca achou que fôssemos viver uma situação dessa no Brasil, desse tipo de interferência na nossa soberania e causada por um ex-presidente e sua família que quer anistia, que articulam contra o Brasil, que se fantasiam com a bandeira brasileira, que falam dos valores do Brasil e entregam o nosso país ao estrangeiro”, declarou.
“Sem anistia para uma gente traidora, que nos vende, que tentou dar um golpe e agora dá um golpe continuado. Nós não vamos negociar nossa soberania, democracia e autonomia dos nossos Poderes. E aqui quero fazer um cumprimento especial ao ministro Alexandre de Moraes, que tem sido fundamental na condução desse processo.”
Na véspera, o partido aprovou a tese –texto que guiará os trabalhos da sigla nos próximos anos– apresentada pela corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), corrente de Lula que ganhou a maioria dos votos na eleição. As correntes são as chapas que disputam poder dentro do partido.
A tese foi aprovada com a inclusão de uma defesa do veto ao projeto de lei que muda as regras do licenciamento ambiental. Foram rejeitadas emendas propostas por alas mais à esquerda do partido, com críticas ao novo arcabouço fiscal e à frente ampla que dá sustentação ao governo em votações no Congresso.
Com 107 itens, o documento do CNB destaca entre as metas e diretrizes do partido para o momento o repúdio ao genocídio na Palestina, a atenção ao tarifaço imposto por Donald Trump ao Brasil e ao mundo, o combate à extrema direita, a isenção do Imposto de Renda para quem tem renda mensal de até R$ 5.000 e a igualdade salarial.
Uma das principais pautas defendidas pelo PT neste ano tem sido a defesa da escala 6 por 1, que reduz a carga-horária de trabalho semanal. No entanto, o tema teve apenas uma breve menção no texto aprovado.
“Tudo indica que a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas e a criação de um imposto sobre lucros e dividendos, que já vigoram nas principais democracias do mundo, mesmo que sejam criticadas pelas minorias privilegiadas, contarão com idêntico respaldo da maioria do povo”, diz.
O texto também afirma que o governo Lula tem procurado melhorar sua comunicação institucional, mas aponta que o embate pelo debate público é mais amplo. Também seria necessário convencer a população da importância das ações de Lula, não só divulgar o que foi entregue por sua gestão.
A tese da CNB cobra ainda que governo e aliados adotem uma comunicação “mais proativa e direta” com a sociedade, o que incluiria explorar “o carisma e a palavra” de Lula e suas viagens pelo país. “Supõe também aproveitar melhor o prestígio e a capacidade de interlocução social dos principais ministros e dirigentes do governo”, afirma o texto.
Leia Também: Bolsonaristas tentam impulsionar atos com sanções de Trump a Moraes, mas temem esvaziamento
Fique conectado