Após atingir mínima em cinco meses – ou desde o início de maio – no começo da semana, o barril de petróleo brent mais negociado na Europa saiu da casa dos US$ 61 para US$ 66 nesta quinta-feira (23).
Apenas nesta quinta, o brent avançava cerca de 5%. O principal catalisador para isso foi a a imposição pelos EUA de sanções aos principais fornecedores russos, Rosneft e Lukoil, devido à guerra na Ucrânia.
As duas companhias respondem por cerca de 5% de toda oferta global de petróleo. E, portanto, novas sanções norte-americanas mirando empresas desse porte, acaba gerando um aumento significativo dos prêmios de risco de oferta no Leste Europeu, que se converte, portanto, nesse suporte às cotações.

A alta do petróleo também impacta as ações brasileiras. Na reta final do pregão, Petrobras PN (PETR4) avançava 1,68%, Brava ON (BRAV3) subia 3,58%, Prio ON (PRIO3) valorizava-se 2,13% e PetroRecôncavo ON (RECV3) mostrava elevação de 1,20%.
As sanções dos EUA significam que as refinarias da China e da Índia, grandes compradoras do petróleo russo, precisarão buscar fornecedores alternativos para evitar a exclusão do sistema bancário ocidental, de acordo com o analista do Saxo Bank, Ole Hansen.
Os EUA disseram que estavam preparados para tomar outras medidas, pois pediram a Moscou que concordasse imediatamente com um cessar-fogo na Ucrânia.
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“As últimas sanções dos EUA aos maiores produtores de petróleo da Rússia representam uma escalada significativa e sem precedentes na campanha de pressão de Washington contra Moscou”, disse Jorge Leon, chefe de análise geopolítica da Rystad Energy. “Combinadas com a recente onda de ataques à infraestrutura petrolífera russa, essas sanções aumentam a perspectiva de grandes interrupções na produção e exportação de petróleo bruto russo, aumentando o risco de paralisações forçadas da produção.”
A Grã-Bretanha sancionou a Rosneft e a Lukoil na semana passada. Os países da UE aprovaram um 19º pacote de sanções contra a Rússia, que inclui a proibição das importações de GNL russo.
Mudança de rumos
Os futuros do petróleo bruto Brent mudaram para a situação de mercado conhecida como “backwardation”, com o primeiro mês sendo negociado cerca de US$ 2 acima do contrato para entrega em seis meses.
Logo após a revelação das sanções dos EUA, os futuros do Brent e do WTI subiram mais de US$ 2 por barril, com o apoio de uma queda surpreendente nos estoques dos EUA.
O impacto das sanções sobre os mercados de petróleo também dependerá da reação da Índia e do fato de a Rússia encontrar compradores alternativos, disse Giovanni Staunovo, analista do UBS.
A Índia se tornou o maior comprador de petróleo bruto russo transportado por via marítima com desconto após a guerra de Moscou na Ucrânia.
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É provável que as refinarias indianas reduzam drasticamente as importações de petróleo russo devido às novas sanções, disseram fontes do setor para a Reuters.
A empresa privada Reliance Industries, a principal compradora indiana de petróleo bruto russo, planeja reduzir ou interromper completamente essas importações, de acordo com duas fontes familiarizadas com o assunto.
Embora a oferta abundante recente de petróleo possa amortecer o impacto dessas sanções, elas não devem ser subestimadas. Reorganizar as importações da Índia — das quais mais de um terço vêm da Rússia — seria uma tarefa gigantesca. Já a indústria petrolífera chinesa, que importa até 20% de seu petróleo bruto da Rússia.
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A Rússia tem bastante experiência em contornar sanções e seu impacto final ainda não está claro. Os embarques de petróleo bruto do país por via marítima atingiram recentemente o maior nível em 29 meses, apesar de uma série de restrições ocidentais. A refinaria indiana Nayara Energy, apoiada pela Rosneft, por exemplo, pode continuar sendo uma saída para os barris do país. Mas a pressão sobre o país aumentou significativamente.
“A Índia está sob pressão para buscar petróleo em outros lugares, o que provavelmente aumentará a demanda por petróleo não russo, reduzirá o excesso de oferta no mercado de petróleo e, assim, levará a preços mais altos”, disse Carsten Fritsch, analista de commodities do Commerzbank AG. A China poderia comprar mais petróleo russo e, “nesse caso, o impacto das sanções no mercado de petróleo seria menos severo”, acrescentou.
Alta do petróleo vai durar?
Contudo, o mercado ainda se questiona sobre se as sanções dos EUA resultariam em uma mudança fundamental na oferta e na demanda.
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“Até agora, quase todas as sanções contra a Rússia nos últimos três anos e meio não conseguiram afetar os volumes produzidos pelo país ou as receitas do petróleo”, disse o analista da Rystad Energy, Claudio Galimberti.
As preocupações com o excesso de oferta após os aumentos de produção da Opep+ limitaram os ganhos do petróleo na quinta-feira. O UBS espera que o Brent permaneça entre US$ 60 e US$ 70.
“Embora os participantes do mercado estejam transferindo suas preocupações de mercados com excesso de oferta para preocupações com interrupções no fornecimento, ainda vemos um crescimento sólido da oferta nas Américas, e a OPEP+ pode reduzir ainda mais seus cortes em caso de necessidade.”
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Analista da Bloomberg, Nour Al Ali aponta que o brent conseguiu se recuperar do nível de US$ 60/barril, mostrando o quão instável esse piso é. Contudo, com um superávit iminente se acumulando no inverno e o sentimento para a economia global ainda de bastante cautela, é mais provável que essa alta recente diminua do que sinalize o início de uma tendência de alta sustentada.
Bruna Pacheco, especialista em investimentos e sócia da GT Capital, também avalia que as sanções dos EUA criaram um choque de risco de oferta, o que tende a manter um viés de alta e volatilidade no curto prazo, mas não garante uma alta no longo prazo.
Assim, num primeiro momento, a Petrobras se beneficia diretamente de preços mais altos do brent, avalia a analista. Contudo, ela vê como os principais catalisadores para as ações da estatal o cenário político, os dividendos e o plano de investimentos – em vez dos movimentos de curto prazo do petróleo.
O Santander, por sua vez, avalia que, mesmo que todos os barris das duas empresas de petróleo não sejam removidos do mercado e mesmo que o impacto seja momentâneo, isso poderia compensar (i) a recente volta das exportações da OPEP+ e (ii) a expectativa de excesso de oferta de 1,7 milhão de barris ao dia esperado para o 4T25.
“Como resultado, esse movimento pode sustentar os preços do Brent e provavelmente deve melhorar o sentimento dos investidores em relação às ações brasileiras do setor”, avalia. Cabe destacar que, na véspera, o banco havia destacado que os preços do petróleo o impediam de ter uma visão mais positiva sobre a Petrobras.
“Além disso, observamos que os preços do diesel e da gasolina nos EUA também estão subindo, o que, juntamente com o aumento das sanções à Rússia, torna menos atraente para importadores e distribuidores de combustíveis brasileiros importar combustível, contribuindo, assim, para o equilíbrio entre oferta e demanda de diesel e gasolina no 4T25, em nossa opinião”, aponta.
Tal movimento, segundo o Bradesco BBI, seria especialmente benéfico para as três grandes empresas com participação no segmento de distribuição de combustíveis – Ultrapar (UGPA3), Vibra (VBBR3) e Raízen (RAIZ4) -, já que elas são menos dependentes do diesel importado da Rússia em comparação com seus concorrentes menores. O Brasil importa cerca de 10 bilhões de litros de diesel da Rússia por ano.
(com Reuters, Bloomberg e Estadão Conteúdo)
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