O ouro vem vivendo dias dourados. Depois de ultrapassar a marca inédita de US$ 4.300 por onça na quinta-feira (16) e acumular uma alta de cerca de 60% no ano, o metal se consolida entre os ativos mais rentáveis deste ano. Com tantos recordes em sequência, o mercado começa a se perguntar se o ouro ainda tem força para ir além ou se o fôlego está perto do fim.
O movimento tem sido alimentado por uma combinação de fatores que vai muito além da busca por proteção. A instabilidade nas economias desenvolvidas, sinais de continuidade de corte de juros pelo Federal Reserve e as tensões entre Estados Unidos e China têm levado investidores a procurar ativos considerados seguros, como o ouro, segundo analistas ouvidos pelo InfoMoney.
Porém, olhando historicamente, momentos diferentes do ciclo de juros podem levar a uma alta do metal precioso. Embora o aumento das taxas de juros em várias economias possa inicialmente parecer um freio, ele também amplia a incerteza sobre o futuro econômico e reforça a demanda por reservas de valor. Conflitos como a guerra na Ucrânia intensificam a aversão ao risco, enquanto a desvalorização do dólar americano em relação a outras moedas torna o metal mais atraente para investidores estrangeiros, ajudando a sustentar a alta recente.
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“Historicamente, o ouro é ativo de proteção também usando como hedge por muitos fundos de investimento e traders. Na pandemia, o ouro subiu. Em tempos de guerra subiu. E agora vivemos mais um momento de instabilidade geopolítica, principalmente
entre China e EUA. Não há qualquer surpresa nas altas recentes do ouro. É tendência clara acelerada pelo risco”, diz Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos da Axia Investing.
Olhando para 2026, o consenso entre eles é de que o ouro ainda tem espaço para brilhar, embora o ritmo possa perder intensidade. Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades, por exemplo, projeta que o metal pode atingir o nível de US$ 5.000: “Não parece impossível no médio e longo prazo”.
A trajetória vai depender, afirmam os estrategistas, em grande parte, das políticas monetárias globais, do comportamento da inflação e do apetite dos bancos centrais por reservas em metais preciosos.
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O chamado cenário-base de grandes casas de análise prevê um ano de preços elevados e alta volatilidade. A explicação está na transição esperada das políticas monetárias, especialmente nos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) deve começar a ajustar suas taxas de juros conforme o comportamento da inflação. Se os juros reais (taxas nominais descontadas da inflação) continuarem baixos, os especialistas dizem que o ouro tende a se manter valorizado.
Os analistas também chamam atenção para o papel dos ETFs (Exchange-Traded Funds), fundos negociados em bolsa que replicam o preço do metal. A demanda desses fundos, junto com a compra de ouro pelos bancos centrais, tem sido um dos pilares da valorização recente.
Há quem acredite que o metal ainda pode buscar novas máximas caso o mundo entre em uma recessão global, enfrente choques geopolíticos ou veja os juros reais recuarem. Por outro lado, se a inflação permanecer resistente e o Fed adotar uma postura mais dura, o ouro pode sofrer uma correção, devolvendo parte dos ganhos recentes.
“No sentido global, 2026 precisa trazer mais previsibilidade e paz para que possamos ver uma queda dos ativos de proteção. Não podemos deixar de citar que os países estão cada vez mais protecionistas em relação a metais preciosos e terras raras, o que também
pressiona a cotação destes ativos”, avalia Sant’Anna.
O que pode acelerar ou reduzir o preço do ouro
O que pode mexer com esse equilíbrio, para cima ou para baixo, passa principalmente pelas decisões dos bancos centrais e pelo humor dos investidores globais, avisa Leonardo Andreoli, analista da Hike Capital.
Entre os fatores que podem pressionar o preço do ouro para baixo, Andreoli cita a possibilidade de uma “surpresa hawkish” do Fed, ou seja, a manutenção de juros reais (taxas nominais descontadas da inflação) mais altos por mais tempo. Uma valorização ampla do dólar americano e a redução dos riscos geopolíticos também poderiam esfriar a busca por proteção.
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Outro ponto de atenção é o comportamento dos ETFs: uma reversão nos fluxos desses fundos, somada a uma eventual pausa nas compras oficiais de ouro pelos bancos centrais, especialmente o PBoC (People’s Bank of China), que vem comprando há vários meses consecutivos, teria potencial para reduzir a demanda.
Por outro lado, há fatores que podem acelerar o preço do ouro. Cortes de juros mais rápidos e profundos, um agravamento nas relações comerciais entre Estados Unidos e China, maior entrada de recursos em ETFs e a continuidade das compras de ouro pelos bancos centrais tendem a sustentar o movimento de alta.
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Vale a pena investir em ouro agora? Onde?
Diante das máximas históricas, a decisão de investir em ouro deve ser cuidadosamente avaliada, segundo Welinton dos Santos, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP). “Para alguns investidores, pode ser um bom momento para realizar lucros, enquanto outros podem optar por manter suas posições, acreditando que a volatilidade global continuará a favorecer o ouro. A diversificação é sempre recomendada, e os investidores devem considerar suas necessidades e objetivos financeiros individuais”, orienta.
O equilíbrio entre risco e retorno de curto prazo pede cautela, segundo Andreoli. Quem já surfou a alta pode considerar ajustes parciais, mantendo o ouro como diversificador contra choques econômicos e políticos. Já quem pretende começar agora pode fazer isso de forma gradual, comprando em parcelas menores para reduzir o risco de entrar em um momento de correção.
Para se expor ao ouro, o investidor brasileiro tem diversas alternativas. Andreoli diz que a mais prática é o ETF GOLD11, negociado na B3 (B3SA3), que replica em reais o desempenho do fundo internacional iShares Gold Trust (IAU), servindo também como proteção cambial.
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Há ainda opções como os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) de ETFs estrangeiros, contratos futuros de ouro, voltados a quem tem perfil mais técnico, e ações de mineradoras, que tendem a amplificar os movimentos do metal, mas com maior volatilidade. Outra escolha, conforme ele, é o ouro físico, vendido por distribuidores especializados, indicado a quem prefere ter o metal em mãos, mesmo arcando com custos de custódia e seguro.
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