O Bradesco BBI elevou a recomendação para as ações argentinas de underperfom (posição abaixo da média) para neutra depois de uma viagem a Buenos Aires com investidores entre os dias 15 e 17 de setembro. Os analistas se reuniram com autoridades do Ministério da Economia, do Banco Central da República Argentina (BCRA), além de empresas e consultores políticos e econômicos, e saíram com uma leitura mais equilibrada sobre os riscos e oportunidades do país.
A decisão vem depois de semanas agitadas na política e nos mercados, devido à derrota política do governo Milei na província de Buenos Aires e denúncias de corrupção, cenário que elevou os temores sobre a governabilidade, mas que agora pode ganhar fôlego com a perspectiva de ajuda americana e um possível realinhamento político antes das eleições de outubro.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou na segunda-feira (22) que “todas as opções estão na mesa” para apoiar a Argentina, incluindo linhas de swap, compras de moeda e até de dívida em dólares. Nesta terça-feira (23), Javier Milei deve se encontrar com Donald Trump.
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Investidores aceleraram a saída de recursos da Argentina semana passada, forçando o governo Javier Milei a gastar mais de US$ 1 bilhão em apenas dois dias para conter a desvalorização do peso e tentar preservar o acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), enquanto a moeda rompeu o teto da faixa cambial e a confiança nos ativos do país desabou após derrotas políticas, denúncias de corrupção e queda de popularidade do presidente às vésperas das eleições legislativas de outubro.
Rumores de uma negociação de linha de crédito swap com os Estados Unidos, no valor de até US$ 30 bilhões para cobrir vencimentos de 2026 e 2027, deram um respiro. O peso se valorizou 4,4%, chegando a 1.409 por dólar, e o risco-país caiu para 1.000 pontos-base.
Os analistas calculam que a política de intervenção do BCRA só é sustentável até um limite de US$ 150 milhões por dia. Vendas acima desse patamar poderiam gerar nova crise de confiança sobre a capacidade de honrar a dívida. Ainda assim, o relatório do banco afirma que o risco de uma desvalorização abrupta diminuiu, já que a cotação atual do peso está próxima do equilíbrio externo, em torno de 1.600 por dólar.
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Na parte setorial, o Bradesco BBI segue com preferência pela energia, onde vê companhias mais preparadas para atravessar a turbulência. A Vista Energy foi incluída no lugar da YPF, e a carteira segue com TGS, Pampa Energía e IRSA. No mercado financeiro, a recomendação é reduzir exposição a bancos com maior sensibilidade a choques locais. O Grupo Financiero Galicia (GGAL) foi substituído pela Byma, a bolsa de valores da Argentina, considerada menos vulnerável à volatilidade política e macroeconômica.
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Ontem, os ativos argentinos tiveram forte recuperação, com ações negociadas nos EUA em alta de mais de 10%, títulos em dólar subindo até 6 centavos e o peso se valorizando após as promessas dos EUA. Em paralelo, Buenos Aires suspendeu temporariamente impostos de exportação sobre grãos para atrair divisas, o que já foi suficiente para atrair compras chinesas.
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Mas o ambiente político para Milei, visto como pró-mercado, ainda é delicado. O governo sofreu uma derrota de 13 pontos na província de Buenos Aires, onde o governador Axel Kicillof se consolidou como novo líder da oposição. O revés obrigou Milei a abandonar uma estratégia de confronto com o peronismo e o kirchnerismo, que tinha como meta desarticular os adversários, e adotar um movimento de aproximação com governadores considerados aliados. A convocação de uma mesa nacional de governadores foi a expressão mais visível dessa mudança.
Do lado eleitoral, o Bradesco BBI lembra que as pesquisas ainda colocam a coalizão La Libertad Avanza (LLA) com 37,5% das intenções de voto, contra 29,6% do peronismo. Isso permitiria a Milei conquistar cerca de um terço da Câmara Baixa, algo em torno de 81 cadeiras, o bastante para reduzir o risco de impeachment e oferecer algum grau de governabilidade. Desde a derrota em Buenos Aires, a LLA perdeu três pontos de apoio, e os analistas afirmam que a grande questão agora é saber se essa base será mantida até a votação de 26 de outubro.
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