Notícias em alta
Categorias
Fique conectado
Notícias em alta
Ao utilizar nosso site, você concorda com o uso de nossos cookies.

Notícias

IA não vai entregar criatividade na gestão de recursos, diz Bollinger, trader global
Economia

IA não vai entregar criatividade na gestão de recursos, diz Bollinger, trader global 

Em meio à “moda” da inteligência artificial — com a corrida por algoritmos, prompts e promessas de automatizar da seleção de ativos à gestão de carteiras —, John Bollinger traz um importante contraponto: a IA é auxiliar. Segundo ele, a IA acelera tarefas mecânicas, melhora triagens e libera tempo para decisões de alto nível, mas não substitui o gestor.

Boa gestão exige criatividade”, afirma o criador das Bandas de Bollinger, para quem a IA “não deve entregar criatividade tão cedo” no processo de gestão de portfólio.

Sobre seu indicador, Bollinger reforça que as Bandas podem ser aplicadas a qualquer mercado e horizonte de tempo, com eficácia variável conforme o ambiente: em cripto (Bitcoin, Ether, Solana, Ripple), o desempenho é muito forte; em mercados desenvolvidos, como o acionário dos EUA, funcionam bem, embora menos do que em cripto.

Continua depois da publicidade

O ruído crescente no mercado, por sua vez, dificulta a leitura técnica — e o acesso a dados desponta, segundo ele, como a “grande crise” para analistas.

Para o futuro, a palavra de ordem é adaptabilidade. Assim como as Bandas usam a volatilidade para se ajustar ao contexto, traders precisam se adaptar: o que funcionou ontem pode não servir hoje. Conforme ele, é essencial questionar suposições, revisar “verdades” do mercado e ajustar continuamente métodos e sistemas.

Bollinger esteve no Brasil, em São Paulo, na Arena Trader — um dos palcos da Expert XP 2025 —, onde foi “tietado” por aspirantes e traders profissionais e destacou como o indicador ajuda a identificar oportunidades, estruturar sistemas operacionais e manter disciplina em meio ao caos dos mercados.

Continua depois da publicidade

Em entrevista exclusiva concedida ao InfoMoney na Expert XP 2025, ele detalhou sua visão sobre IA, eficácia das Bandas e a necessidade de adaptação constante. Confira, a seguir, os principais trechos.

Entrevista John Bollinger

InfoMoney: Hoje, a velocidade das negociações e a diversidade de ativos — de criptomoedas a contratos futuros e ações globais — são enormes. Como o senhor vê a aplicação das Bandas de Bollinger em mercados tão distintos e acelerados?

John Bollinger: As Bandas de Bollinger são uma ferramenta de análise técnica e podem ser aplicadas a qualquer mercado e em qualquer horizonte de tempo. É verdade que elas são mais eficazes em alguns mercados e menos em outros.

Continua depois da publicidade

Por exemplo, em cripto — Bitcoin, Ether, Solana, Ripple, e por aí vai — as Bandas de Bollinger são muito eficazes. Elas também funcionam muito bem em grandes mercados desenvolvidos, como o mercado acionário dos EUA.

Funciona bem lá, mas não tão bem quanto em cripto. Então, o que importa muito é o caráter do mercado e o nível de atividade. Vou contar uma história: anos atrás eu estava na Itália, quando lançaram os futuros do índice de ações italiano. Conheci um cara que os negociava havia um ano e tinha um histórico incrível com um sistema muito, muito simples — o meu sistema trabalho.

Perguntei por quê e ele disse: “Porque é novo, não há ruído, não há arbitragem, é apenas ação pura de preço.” Acho que em mercados mais desenvolvidos é mais difícil fazer análise técnica em geral; em mercados menos desenvolvidos é mais fácil.

Continua depois da publicidade

Por isso é mais fácil em cripto. Provavelmente é mais fácil aqui no Brasil. É mais fácil na Itália do que na Alemanha. É porque há menos ruído no mercado. Esse é o ponto‑chave: o ruído.

Nos EUA, há todo tipo de gente operando de forma mecânica, entrando e saindo instantaneamente. Isso não tem nada a ver com oferta e demanda: apenas cria ruído e dificulta enxergar o que está acontecendo. Para mim, isso significa olhar prazos mais longos, onde as coisas ficam mais fáceis.

IM: Com o avanço de tecnologias como inteligência artificial e algoritmos de alta frequência, que impacto o senhor acredita que isso tenha na eficácia das ferramentas tradicionais de análise técnica, incluindo as Bandas de Bollinger?

JB: Posso dizer que a inteligência artificial tem sido muito útil no nosso trabalho. Programamos algumas coisas no escritório. Ela facilita muito a programação básica, o “boilerplate”, aquela parte em que você só precisa ficar ali executando.

Fica muito, muito mais fácil: você pede para “preencher” e, depois, offline — longe da IA — você insere as partes inteligentes por conta própria, para não devolver suas ideias à máquina. Isso ajuda demais.

Ela também começa a ajudar em triagens: você pode ir a alguns mecanismos de IA e dizer “me interesso por ações de certo tamanho, com determinada taxa de crescimento” e coisas assim. Eles te dão listas, e você faz seu próprio trabalho sobre essas listas.

Então, vemos a IA no processo de gestão de portfólio como uma auxiliar — algo que torna nosso trabalho mais fácil e elimina parte do trabalho braçal, permitindo prestar mais atenção às ideias de nível mais alto.

“A IA é um substituto para a gestão de portfólio? Não. Algum dia será? Quem sabe, mas parece improvável. Boa gestão de portfólio exige criatividade — e não acho que a IA vá entregar criatividade tão cedo.”

Leia também: Para “pai” das Bandas de Bollinger, segredo para trader é ser “o menos emotivo possível”

IM: O senhor já disse que disciplina é mais importante do que talento no trading. Quais são hoje os maiores desafios emocionais dos traders? Que técnicas você recomenda para manter a disciplina em um ambiente tão volátil e veloz?

JB: Não há dúvida de que a volatilidade aumentou — e isso é um problema. A gente brinca no escritório que, quando sai um balanço, “negociaram todos os preços”. Isso dificulta muito tomar decisões adequadas quando acontecem esses picos de volatilidade.

O problema real é que “disciplina” costumava significar, por exemplo, colocar stops no mercado. Você entra comprado, põe um stop, e conforme a posição anda, vai subindo o stop até ser acionado. Hoje, esses espasmos de volatilidade batem nos seus stops e tornam muito, muito difícil usá‑los.

Então, o que posso dizer é que é preciso uma abordagem extremamente disciplinada e que você deve ser o mais sem emoção possível (isto é, manter a neutralidade emocional).

A chave para isso é realmente compreender as suas ferramentas — aquilo que você usa, os componentes do seu sistema — de modo que você confie neles e mantenha as emoções fora do processo, porque as emoções vão te prejudicar sempre.

IM: Além da análise técnica, que habilidades você considera essenciais para um trader se preparar para operar com sucesso no ambiente de mercado atual?

JB: Gosto de dizer às pessoas para voltarem e lerem os clássicos, os livros antigos, porque as forças básicas do trading não mudaram.

Ainda é oferta e demanda. Ainda é acumulação e distribuição. Esses são fatos imutáveis dos mercados. Hoje há muito ruído e loucura, mas, se você entende os mecanismos básicos do mercado, consegue ficar acima do ruído.

Tem um cara aqui [na Arena Trader] — não o vejo agora — usando uma camiseta que diz “sem fundamentos, sem técnicos, nada disso” e, embaixo, “Wyckoff, sim”.

Wyckoff foi um analista que escreveu [sua teoria] há mais de 100 anos — e o que ele escreveu sobre os mercados é tão verdadeiro hoje quanto era então. Claro, os mercados mudaram e são diferentes, mas as ideias básicas são as mesmas.

Meu conselho [aos traders] é: leia os clássicos, leia os livros antigos de análise técnica. Há até uma lista de leitura no meu site, BollingerBands.com.

Se você procurar em um dos menus, há uma lista de leituras recomendadas, e muitos desses livros são bem antigos. Ainda estão em catálogo e não são tão difíceis de encontrar — e oferecem um conhecimento inestimável.

IM: Considerando a crescente importância de dados fundamentais e quantitativos, como o senhor vê a integração dessas abordagens com as ferramentas de análise técnica, especialmente as Bandas de Bollinger?

JB: A disponibilidade de dados é um grande problema hoje. Muitas bolsas veem seus dados como proprietários e estão tornando o acesso muito, muito difícil.

Nos últimos quatro ou cinco anos, vários provedores e fontes de dados foram descontinuados ou ficaram indisponíveis. É possível se adaptar, mas é difícil.

“Para mim, disponibilidade de dados é a grande crise que enfrentamos.”

Existem empresas como a MSCI que não fazem outra coisa senão vender dados — virou um negócio enorme. Enquanto os dados de preço continuarem disponíveis, ferramentas como Bandas de Bollinger, IFR, Estocástico e outros indicadores relacionados continuarão funcionando bem.

Mas, se começarmos a ter problemas para obter dados de preço, nosso trabalho vai ficar quase impossível. O que precisamos, como analistas técnicos, é de bom acesso a dados de preço limpos e de qualidade — e acho que isso será um problema no futuro.

IM: Por fim, olhando adiante: que mudanças o senhor acredita que vão moldar o trading e a análise técnica nos próximos 10 anos? Como os traders podem se preparar para essas transformações?

JB: As Bandas de Bollinger são um exemplo: elas são adaptativas porque usam a volatilidade como motor para se adaptar ao ambiente em mudança.

Os traders também precisam ser adaptativos. O ambiente muda ao redor deles — e eles devem se adaptar. O que você fez ontem pode não servir hoje, e o que você faz hoje pode não ser útil no futuro.

Isso não significa que você não possa ter sucesso; significa que você precisa se adaptar ao ambiente em mudança. Gosto de dizer às pessoas que questionem tudo: todas as suposições que fazemos, todos os ditados — se algo está sobrecomprado ou sobrevendido, e todas essas pílulas de “sabedoria” que te contam.

“Você precisa questionar tudo isso. Pode ser que fossem verdade quando foram ditas pela primeira vez, mas as coisas podem ter mudado. Então, questione tudo e faça o máximo para se adaptar a ambientes em transformação.”

Entenda o que são as Bandas de Bollinger

As Bandas de Bollinger foram criadas no início dos anos de 80, sendo, atualmente, um dos mais populares indicadores de análise técnica, utilizado por traders de todo o mundo.

Essencialmente, é um indicador de volatilidade, ou seja, que mede a variação de preço de um ativo durante um determinado tempo, indicando se este está com uma alta ou uma baixa volatilidade.

Além de indicar a volatilidade, se usarmos as Bandas com uma leitura mais apurada, em conjunto com outros indicadores de análise, é possível identificar se ele entrou em uma tendência de alta ou de baixa.

John Bollinger; exclusive interview; Bollinger Bands Na imagem acima observe como funciona na prática: são três bandas, com a inferior abaixo dos preços e a superior acima dos preços; a central, por sua vez, é a média móvel aritmética (MMA) de 20 períodos, mas que pode ser de 10 ou 50, por exemplo, desde que aplicados os desvios padrões. Imagem: Nelogica

Como interpretar?

Com seu desenvolvimento a partir do desvio padrão, o ativo tende a permanecer, na maior parte do tempo (aproximadamente em 90%), dentro dos limites da banda inferior (preços mínimos) e da banda superior (preços máximos).

Entretanto, nos momentos em que há alta volatidade, o preço do ativo tende a ultrapassar a banda inferior ou superior.

Isso, consequentemente, afasta o ativo da banda central, sinalizando uma força compradora ou vendedora.
Bandas de Bollinger aplicadasNo gráfico acima estão destacados os pontos de alta volatidade, que, em um determinado momento, fizeram com que o preço rompesse a banda inferior ou superasse a banda superior do indicador, podendo sinalizar momentos para compra ou venda do ativo. Imagem: Nelogica

Mais informações sobre as Bandas de Bollinger podem ser encontradas neste guia, que o InfoMoney preparou, que pode ajudá-lo a entender e a colocar em prática a ferramenta.

Diariamente, o InfoMoney publica também uma seção com as perspectivas para os minicontratos negociados na B3.

Para mais conteúdos sobre day trade, mercados futuros e análise técnica acompanhe o IM Trader, canal do InfoMoney.

Postagens relacionadas

Deixe um comentário

Os campos obrigatórios estão marcados *