As próximas noites devem dar o tom do impacto da crise de intoxicações por metanol no setor de bares, restaurantes e baladas na cidade de São Paulo. Ansiosos, representantes do setor e proprietários devem acompanhar de perto o fluxo de consumidores nos estabelecimentos.
Regiões como Vila Madalena, Pinheiros, Vila Olímpia e os arredores das universidades da cidade, por onde estão algumas das principais alternativas de lazer dos jovens, devem experimentar uma redução no fluxo de consumidores – ou, no mínimo, uma queda relevante no consumo.
Quem conta é o diretor da Associação Paulista De Bares, Restaurantes, Eventos, Casas Noturnas, Similares e Afins (Apressa), Denis Rezende. Proprietário do bar Café Journal, ele explica que os bares destinados ao público com menos de 30 anos devem ser impactados “consideravelmente” já nesse fim de semana.
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“Bares que trabalham com público mais jovem, nesse momento, serão os mais afetados. Quem trabalha com um público de mais de 30 anos, pode ser menos impactado porque existe uma migração do consumo do destilado para o vinho e para a cerveja”, disse Rezende em entrevista ao InfoMoney.
As bebidas destiladas como gin, uísque e vodca estão no centro das investigações envolvendo intoxicações por metanol nas últimas semanas. Na tarde da última quinta-feira (2), ministro da Saúde, Alexandre Padilha, confirmou 59 notificações no País, das quais 11 já têm detecção laboratorial da presença de metanol.
Fora São Paulo, que reúne 53 dos casos, há outras cinco notificações em Pernambuco e uma em Brasília. Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, São Paulo é o único estado em que se registrou uma redução relevante no movimento dos bares nos últimos dias, em especial nas regiões onde bares foram fechados cautelarmente para investigações.
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“Esse final de semana será emblemático”, afirma Solmucci, para quem houve um movimento de “falso alarme para a sociedade”. “Apenas um cliente associou [o caso de intoxicação] com um bar e, ainda assim, esse caso não está confirmado”, afirma. O falso alarme, segundo Solmucci, tirou um pouco do pânico. “Se continuar nesse ritmo, achamos que a perda será pontual”, diz.
Empresários do ramo de bares em São Paulo, no entanto, aguardam o fim de semana para entender por quanto tempo deve perdurar o receio. “Na verdade será um grande termômetro”, conta Fausto Salomão, sócio do Grupo Azim, proprietário de bares no coração da Vila Madalena, em São Paulo.
A expectativa é de um público receoso em bares como Omadá, Posto 6 e Patriarca, no cruzamento das ruas Mourato Coelho e Aspicuelta. “Ainda temos bastante dúvida de como as coisas vão se desenrolar daqui para a frente. Entendemos que nesse primeiro momento é natural que fiquem mais cautelosos e haja uma retração de consumo.”
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Denis Rezende, da Apressa e dono do Café Journal, conta que a venda de coquetéis a base de destilados em seu bar na quarta-feira (1) já foi quase zero. Segundo ele, bares da Apressa com agenda cheia de eventos corporativos já receberam pedidos de cancelamento nas agendas para as próximas semanas.
Entre as medidas para aplacar o receio dos clientes, o Grupo Azim têm tornado públicas suas rotinas de compra de bebidas e o responsável pela área de aquisição dos produtos se tornou o porta-voz da empresa em redes sociais e na imprensa. Até um influenciador deve ir a uma das casas nesta semana para provar uma caipirinha enquanto explica os critérios para seleção de fornecedores da casa em uma rede social.
Presencialmente nas unidades, gerentes passaram por um treinamento para sanar eventuais dúvidas sobre a origem das bebidas do grupo, compradas de distribuidores homologados pelas próprias destilarias, como Diageo e Pernod Ricard. Eles também estão munidos de uma carta da sua fornecedora, a FG7 Bebidas, afirmando ter passado por vistoria da vigilância sanitária nesta semana que não encontrou nenhuma irregularidade.
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Ao menos outras seis das principais distribuidoras de bares e restaurantes de São Paulo passaram por fiscalizações do mesmo tipo nos últimos dias, segundo apurou o InfoMoney.
O Sindicado dos Clubes do Estado de São Paulo (Sindi Clubes) anunciou no início desta semana a suspensão da venda de bebidas destiladas nas dependências de suas instituições. “Essa decisão visa proteger tanto os consumidores quanto a reputação de nossos clubes, demonstrando cuidado e responsabilidade”, disse a entidade.
Os números de intoxicações envolvendo metanol nos últimos dias excede a média registrada nos últimos anos de cerca de 20 casos, aponta o Ministério da Saúde. Na última quinta-feira, o ministro Alexandre Padilha recomendou que se evite a ingestão de produtos destilados “sobretudo os incolores, que você não tem absoluta certeza da origem”.
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Entre donos de bares há receio quanto à identificação de produtos falsificados. Na quarta-feira, a Abrasel anunciou pela manhã a realização de três horários para um curso de boas práticas para reconhecer eventuais produtos ilícitos. Em poucas horas, foram mais de 10 mil inscrições. Fontes com quem o InfoMoney conversou afirmaram que desconhecem qualquer iniciativa de bares em permanecerem fechados no final de semana.
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