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Conheça o país da Otan que não tem forças armadas
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Conheça o país da Otan que não tem forças armadas 

Membro fundador da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a Islândia é o único país do bloco que não possui forças armadas, dependendo principalmente dos Estados Unidos, que usa a nação nórdica como base e auxilia na defesa do país. Mas isso pode mudar em breve. A guarda costeira, que há décadas exerce o “papel militar” do país, tem reclamado de estar sobrecarregada. “Três helicópteros, dois navios e um avião não são suficientes”, lamentou recentemente um oficial em entrevista ao jornal britânico The Economist.

Nos dias atuais, existem cerca de 20 países sem forças armadas permanentes, como Costa Rica, Islândia e Panamá. Cada um tem suas próprias razões, mas o cenário atual que a Europa atravessa, envolvendo a Rússia e a Ucrânia, com suas consequências para o resto do continente, tem levado políticos e parte da sociedade islandesa a repensar esta posição.

Em meio ao rearmamento dos países europeus, justificado pela ameaça russa ao continente e pelas advertências do presidente americano, Donald Trump, para que países aliados invistam em defesas militares, o país nórdico – que gasta apenas 0,2% do seu PIB com defesa – tem sentido a pressão dos americanos e de aliados. “Eles estão nos pressionando”, afirma Thorgedur Katrin Gunnarsdottir, ministra das Relações Exteriores da Islândia.

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Os americanos usam o país para monitorar submarinos russos que se infiltram no Atlântico e isso fez com que a Islândia conseguisse “terceirizar” sua proteção, até então. Agora, os planos do país, com cerca de 400 mil habitantes, envolvem aumentar os gastos em defesa, podendo chegar a 1,5% do PIB.

Esse incremento possibilitaria a construção de uma infraestrutura mais sólida para auxiliar navios, submarinos e aviões americanos e europeus que possam usar a Islândia como posto de parada em tempos de guerra no Atlântico.

Entretanto, essa decisão deixaria o país vulnerável em outros aspectos. A Islândia, uma ilha de 103.000 km², é “conectada” ao mundo através de cabos submarinos, que desempenham o papel de transmissão do tráfego internacional de dados, voz e internet.

Como o país não conta com um serviço de inteligência para caçar sabotadores e espiões, uma das atribuições da guarda costeira é proteger os cabos de ataques rebeldes. Uma aproximação com os Estados Unidos e a Otan, resultando no aumento de gastos em equipamentos militares, poderia deixar o país cada vez mais suscetível a ataques russos e em última medida, a Islândia poderia ficar isolada se seus cabos fossem cortados.

Ataques a cabos dessa natureza não são incomuns. Em abril deste ano, ataques a cabos submarinos, que ameaçaram a rede de internet responsável por movimentar 95% dos dados globais, foram atribuídos ao Kremlin.

Um relatório divulgado em março deste ano pelo think tank americano Center for Strategic and International Studies (CSIS) apontou que Moscou fez o uso de navios comerciais, explosivos, ciberataques, instrumentos cortantes de cabos submarinos – como âncoras – e até o envio coordenado de imigrantes ilegais para desestabilizar fronteiras do Ocidente.

O documento aponta que o número de ataques orquestrados “nas sombras” por Moscou na Europa quase triplicou entre os anos de 2023 e 2024, saltando de 12 para 34 incidentes com impactos físicos — como explosões, incêndios e cortes em cabos submarinos (que servem para transferir dados digitais, como internet, telefonia e tráfego privado). A maioria das ações foi conduzida pelo serviço de inteligência militar russo, o GRU, com apoio de agentes locais infiltrados, criminosos contratados e até recrutas estrangeiros que foram treinados em solo russo.

Caso fosse necessário nos dias atuais, a guarda costeira da Islândia também teria ampla dificuldade em conter ofensivas dessa natureza. Apenas recentemente o país começou a investir em submarinos não tripulados e em tecnologia antidrone.

Criação de um exército

Membros do alto escalão de defesa islandês, como Arnor Sigurjonsson, que até recentemente foi o principal oficial de defesa do país, defendem a formação de um exército. Ele argumenta que é infantil terceirizar a defesa do país e propõe a criação de uma entidade, que inicialmente, seria constituída por 1.000 homens, para defender aeroportos e portos em emergências. Isso porque, para o oficial, a infraestrutura islandesa pode estar suscetível a ataques russos. “Dizem que somos poucos e pobres demais. Isso simplesmente não é verdade”, afirma.

Para o governo islândes, o “conceito de segurança não se restringe mais à defesa territorial”, mas “abrange a capacidade de lidar com novos desafios”. “Estados individuais não impedirão, por si só, a proliferação de armas de destruição em massa, o terrorismo, a criminalidade internacional, a degradação ambiental, a segurança financeira, as ameaças cibernéticas, o tráfico de pessoas, o impacto negativo das mudanças climáticas, a pobreza e a miséria, nem a ameaça representada por Estados frágeis”, defende o site oficial do governo, que diz priorizar temas como direitos humanos, empoderamento feminino e desarmamento em sua política externa.

Se opiniões como a de Sigurjonsson já foram motivo de chacota no país, agora vêm crescendo cada vez mais como uma possibilidade real. Embora a proposta da criação de um exército ainda traga ceticismo ao povo islandês, a necessidade de o país aumentar seus gastos em defesa, por outro lado, já é mais unânime.

Já Thorgedur, ministra das Relações Exteriores da Islândia, não se posiciona sobre a criação de um exército, mas cita exemplos como Luxemburgo e Malta que têm uma pequena força constituída. “Não tenho medo deste debate. A questão principal é: como defendemos a Islândia?”.

A preocupação também veio à tona depois das ameaças do presidente americano, Donald Trump, de anexar a relativamente próxima Groenlândia. Embora seja altamente improvável que Trump deseje fazer o mesmo com a Islândia, o fato de quase toda a defesa do país nórdico estar a cargo dos EUA não deve ser muito agradável ao republicano, que tem reiterado seus pedidos de que as nações europeias arquem sozinhas com esse tipo de gasto.

Para além das questões militares, a Islândia enfrenta desafios geológicos que carecem de investimento financeiro e apoio externo. O país está localizado sobre as placas tectônicas norte-americana e euro-asiática, que estão em processo de afastamento, provocando instabilidade no solo e resultando em atividades vulcânicas. Algumas cidades, como Grindavik, têm risco de explodir por causa de erupções.

Os islandeses temem que isso também possa se tornar uma realidade política, reacendendo o debate sobre a adesão à União Europeia – que para alguns, seria vital na contenção de tragédias que já vêm acontecendo. Um referendo está planejado para retomar as negociações de adesão, e pesquisas apontam que ele será aprovado.

Os islandeses, segundo Pawel Bartoszek, um parlamentar pró-europeu, estão olhando para a Europa mais do que nunca. As duas pessoas que mais estão fazendo para convencê-los a aderir à UE, diz ele, são “Vladimir Putin e, em muitos aspectos, Donald Trump”.

 

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