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China puxa aumento da repressão à liberdade religiosa
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China puxa aumento da repressão à liberdade religiosa 

A Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, na sigla em inglês), uma fundação pontifícia da Igreja Católica, divulgou nesta terça-feira (21) seu relatório sobre liberdade religiosa no biênio 2023-2024, com uma conclusão alarmante: a perseguição a pessoas devido à sua fé está aumentando drasticamente em todo o mundo.

Segundo o estudo, dos 196 países analisados, em 62 foram registradas graves violações do direito de liberdade religiosa, sendo que 24 destas nações foram classificadas como locais de perseguição e 38 como de discriminação. Apenas dois países, Cazaquistão e Sri Lanka, mostraram melhoria na sua situação em comparação com o relatório anterior.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Ana Manente, presidente da ACN Brasil, disse que não há uma única explicação para o aumento da intolerância religiosa em todo o mundo, mas que há fenômenos específicos em algumas regiões.

“Nos países de maioria muçulmana, no Oriente Médio, descendo para a África, na região do Sahel, o jihadismo tem crescido, então há mais gangues, elas controlam territórios, e os governos continuam sendo fracos. O desenvolvimento humano e político-governamental da África poderia barrar esse extremismo terrorista, mas isso não aconteceu”, afirmou.

No Ocidente, a ACN identificou um aumento de atos antissemitas e antimuçulmanos após os ataques de 7 de outubro de 2023 em Israel, que desencadearam a guerra em Gaza. Segundo o relatório, os incidentes antissemitas aumentaram 1.000% na França, enquanto os crimes de ódio contra muçulmanos aumentaram 29%.

“É claro que, quando há um conflito, a tendência de polarização se exacerba. E eu acho que [a respeito do conflito em Gaza] houve muito também uma questão de narrativas”, disse Manente.

“Quando aconteceram os atentados do Hamas, com a visibilidade que tiveram, na hora eu achei que o mundo veria que o terrorismo de fato existe, o terrorismo extremista, com viés religioso, e o mundo ficaria atento a isso. Mas foi o contrário. A questão do ato terrorista inicial acabou ficando totalmente silente, e isso foi transformado numa narrativa em favor do Estado Palestino”, afirmou a presidente da ACN Brasil.

“Ninguém é contra a solução de um território para um povo, mas eu acho que ali se exacerbou a questão antissemita. Foi a partir dali que a gente viu estudantes de universidades americanas protestando, falando ‘Do rio ao mar’ [do Jordão ao Mediterrâneo, bordão em protestos pró-Palestina que prega o fim do Estado de Israel], eu acho que teve uma dimensão inédita, essa reação contra os judeus”, complementou.

Na China, frequentar locais de culto tira “pontos sociais”

No trecho do relatório que fala sobre a China, a ACN citou a doutrina da “sinicização a partir de cima” implementada pelo ditador Xi Jinping, por meio da qual religiões são admitidas no país asiático somente se aceitarem se “integrar numa sociedade socialista com características chinesas”.

Quem não cumpre essa diretriz, pode ser preso, caso de 30 pastores e líderes da Igreja Zion, uma das maiores congregações cristãs evangélicas não registradas do país, detidos no início de outubro.

Outras agressões, registradas entre 2023 e 2024, foram “repressão e desinformação transnacionais, violência contra minorias religiosas e étnicas na diáspora (incluindo durante a visita do presidente Xi a São Francisco em 2023), e ameaças contra os seus familiares que vivem na China”, destacou a ACN.

O regime comunista também implementou vigilância de alta tecnologia em locais de culto. “A China tem uma questão de que não pode haver nada além do partido, o partido é o órgão máximo, não pode ter nenhuma autoridade acima dele. E daí vem a repressão à religião. Não posso ter um Deus a quem o ser humano deve se submeter, ou o próprio partido, ou as próprias instituições. Essa é primeira barreira”, disse Manente.

A presidente da ACN Brasil afirmou que a China tenta passar uma imagem “mais flexível perante o mundo”, com o discurso de que qualquer religião é permitida no país, desde que registrada. Porém, na prática, as diferentes denominações “são totalmente submetidas à lógica do Partido Comunista Chinês”.

“As homilias, os discursos são revistos, existe uma vigilância tremenda, com reconhecimento facial de todo mundo que entra numa igreja. E isso está associado àquela questão dos créditos sociais. Quem se envolve em qualquer religião, é enxergado como alguém fraco perante o partido. Então, se eu entro na minha igreja, meu Face ID está lá e eu perco pontos sociais”, explicou Manente.

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“Por exemplo, se eu for pegar um empréstimo, a minha taxa de juros é mais alta, porque eu não sou uma boa cidadã. Dentro do partido, se eu tiver religião, eu não vou ter acesso nenhum dentro do partido, não vou ser promovida. Não vou ter cargo, vou sofrer restrições dos meus benefícios. Em casos extremos, eu posso até ser suspensa temporariamente do uso dos aplicativos locais”, afirmou a diretora, que citou também a proibição de frequentar locais de culto e ter educação religiosa para pessoas até 18 anos.

Desrespeito à liberdade religiosa dispara no governo Lula 3

No Brasil, país que não apareceu no relatório da ACN entre os casos mais graves de desrespeito à liberdade religiosa, foram registradas em 2023, primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 2.124 violações de direitos humanos relacionadas à intolerância religiosa, um aumento de 80% em relação a 2022. No primeiro semestre de 2024, as denúncias aumentaram no mesmo patamar na comparação com o mesmo período de 2023.

Segundo a ACN, as vítimas mais recorrentes foram adeptas de religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé.

Manente afirmou que, embora a situação no Brasil não seja tão grave como em outros países, é necessário denunciar e punir os responsáveis por essas agressões, para que estas não se acumulem a ponto de gerar um cenário em que não provocam mais revolta e no qual haja discriminação institucionalizada contra praticantes de uma religião.

“A gente tem no Brasil essa questão dos atos de violência sobretudo contra as religiões de origem africana, é preciso dar a conhecer, é preciso saber que a pessoa [que praticou perseguição] foi investigada, foi punida”, disse Manente.

“Mas não só isso, a gente tem [no Brasil] várias igrejas que são vandalizadas, a gente tem sacrários profanados e a gente tem o que o papa Francisco chamou de ‘perseguição educada’. Quando a gente pega pautas cristãs, por exemplo, direito à vida: a gente posta alguma coisa contra o aborto, o perfil é cancelado, vêm as críticas, o cancelamento digital, existe uma perseguição enorme. Ela não é sangrenta, mas é uma perseguição. Quantas vezes os cristãos deixam de falar o que gostariam de falar por conta da repressão, do politicamente correto que não permite mais um certo valor ser anunciado num dado local, por exemplo?”, disse a presidente da ACN Brasil, que pediu ao Executivo e ao Legislativo “tratar dessas salvaguardas” para preservar a liberdade, “seja de pensamento, seja de fato poder expressar o pensamento de práticas religiosas”: “A parte da sanção tem que andar junto”.

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