A exclusão da celulose brasileira da nova rodada de tarifas dos Estados Unidos trouxe alívio para empresas exportadoras do setor e diminuiu parte das incertezas que pairavam sobre o comércio bilateral, avaliam analistas em relatórios enviados ao mercado nesta quinta-feira (31).
A medida, oficializada por ordem executiva do presidente Donald Trump, impôs tarifas adicionais de 40% a produtos brasileiros, somando-se a uma alíquota recíproca já existente de 10%. Apesar da pressão protecionista, a decisão de isentar a celulose foi bem recebida tanto por estrategistas quanto por investidores.
Segundo relatório do Goldman Sachs, a celulose foi o ponto mais relevante da lista de exceções. A Suzano (SUZB3), classificada como compra pelo banco, é a empresa com maior exposição aos Estados Unidos dentro da cobertura do banco, com cerca de 20% das vendas destinadas ao país.
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Embora a celulose seja uma commodity de fácil redirecionamento logístico, o banco havia alertado para obstáculos comerciais e de cadeia de suprimentos no curto prazo, o que poderia afetar o sentimento dos compradores e pressionar os preços. A notícia é considerada um alívio para a estratégia comercial da Suzano e pode favorecer as negociações com clientes chineses.
O Morgan Stanley reforça essa avaliação ao lembrar que os Estados Unidos são fortemente dependentes da celulose de fibra curta cuja principal origem é o Brasil. De acordo com o banco, o país sul-americano respondeu por 38% a 39% das importações norte-americanas de celulose em 2024, o que explica a exclusão do produto da tarifa adicional de 40%.
Com isso, são reduzidas as chances de perda de participação para concorrentes com menor tributação, ao mesmo tempo que se alivia o custo para as indústrias de papel tissue e embalagens dos Estados Unidos.
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A Klabin (KLBN11), também presente no mercado norte-americano, deve se beneficiar em menor escala. Embora tenha entre 1,8% e 2,5% da receita exposta aos EUA via celulose, grande parte dos seus produtos de papel e embalagem está sujeita à tarifa adicional, o que pode limitar os ganhos, segundo o Morgan. Ambas as empresas mantêm recomendação overweight (exposição acima da média) pelo Morgan Stanley.
Alívio tem limite
O alívio, no entanto, não se estendeu a todos os setores. O Goldman Sachs destaca que as tarifas de 50% sobre o aço, com base na Seção 232 (S232), seguem em vigor. Apesar disso, o banco afirma que as exportações brasileiras de placas continuam competitivas, dado que os preços do aço laminado a quente nos EUA seguem acima de US$ 800 por tonelada. Por isso, a expectativa é que o fluxo comercial continue.
Uma surpresa negativa foi a retirada da tarifa de 50% sobre o cobre refinado (cátodos e ânodos), que o mercado esperava que fosse implementada de forma ampla. A isenção provocou um colapso nos prêmios entre os mercados da Comex (bolsa de futuros de metais dos EUA) e da LME (Bolsa de Metais de Londres), com queda de 17% e 1%, respectivamente, de um dia para o outro.
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Segundo o Goldman essa mudança inesperada pressiona ações de empresas estrangeiras expostas à Comex, como a Southern Copper (SCCO), classificada como venda pelo banco, e outras não cobertas como Freeport-McMoRan (FCX) e Hudbay, que tem planos de refino nos Estados Unidos.
Embora o recuo dos prêmios possa trazer consequências negativas para os preços de referência do cobre, o Goldman Sachs enxerga oportunidade para investidores em ações ligadas à commodity. O banco diz que acredita que os estoques globais estão normalizados e que a desaceleração esperada no segundo semestre não seria suficiente para gerar excedente de oferta.
Assim, recomenda compra para empresas estrangeiras como First Quantum, Ero Copper e Grupo México. Também observa que a Capstone, classificada como neutra, pode ter desempenho positivo quando as incertezas diminuírem.
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Entre os investidores consultados pelo Goldman, muitos seguem cautelosos com o cobre, em parte devido ao acúmulo prévio de estoques nos EUA antes da entrada em vigor das tarifas e à instabilidade quanto ao crescimento da China na segunda metade do ano. A equipe de pesquisa do banco já havia alertado sobre os riscos de uma diplomacia mineral que influenciasse decisões tarifárias, o que parece ter se concretizado.
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