Herdeiro político do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), o senador de centro-direita Rodrigo Paz Pereira fez história neste domingo (19) ao vencer as eleições presidenciais da Bolívia, encerrando quase 20 anos de socialismo no país.
O filho do ex-presidente Zamora venceu o inédito segundo turno presidencial ao derrotar o ex-presidente Jorge Tuto Quiroga (2001-2002). Sua vitória foi impulsionada pelo voto popular e pela promessa de promover o “capitalismo para todos”, seu plano de governo que visa a formalização de pequenas empresas e a recuperação da confiança da população na economia, em meio a uma grave crise nacional.
O resultado eleitoral marca o fim de um ciclo político que começou em 2006 com a ascensão ao poder de Evo Morales e continuou com Luis Arce, cujo mandato terminará oficialmente em 8 de novembro, quando Paz assume a presidência.
Ex-deputado, ex-prefeito, economista de profissão e nascido na Espanha devido ao exílio dos pais, Paz Pereira venceu o segundo turno com 54,57% dos votos, contra 45,43% de Quiroga (2001-2002), segundo o Sistema de Transmissão de Resultados Preliminares (Sirepre) do órgão eleitoral, com 97,68% dos votos apurados.
Senador desde 2020, Paz Pereira, de 58 anos, foi a maior surpresa no primeiro turno, realizado em 17 de agosto, terminando em primeira posição, apesar das pesquisas eleitorais inicialmente indicarem que ele tinha pouco apoio. Isso se repetiu no segundo turno, com as pesquisas prevendo a vitória de Quiroga.
Quem é Rodrigo Paz?
Filho do ex-presidente Paz Zamora (1989-1993) com a espanhola Carmen Pereira, o político nasceu em Santiago de Compostela em 1967 e passou a infância em diversos países devido à perseguição política enfrentada pelos pais.
O novo presidente eleito da Bolívia é economista, formado em relações internacionais e com vasta experiência no setor público, tendo atuado como deputado, vereador e prefeito da cidade de Tarija, no sul do país, de 2015 a 2020. Ele também atua como senador pelo partido de oposição Partido Democrata Cristão (PDC), liderado pelo ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005).
Para se tornar prefeito de Tarija, Paz derrotou o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), liderado pelo ex-presidente Evo Morales (2006-2019), nas eleições municipais de 2015.
Especialistas atribuíram o sucesso de Paz no primeiro turno à conexão que ele estabeleceu com as classes trabalhadoras nas áreas rurais e periurbanas, espaços onde o MAS triunfou nas eleições anteriores, mas nas eleições gerais de 17 de agosto, ele mal conseguiu garantir os 3% necessários para manter o partido.
O líder da oposição vem trabalhando nesse apoio desde sua chegada ao Senado. Suas contas nas redes sociais mostram que ele percorreu vários municípios bolivianos desde 2021. Outros atribuem esse apoio ao seu companheiro de chapa no PDC, o ex-policial Edman Lara, que se tornou popular nas redes sociais por suas revelações de suposta corrupção dentro da força policial, até ser demitido em 2024.
Os apoiadores de Quiroga têm repetidamente apontado que o senador e o PDC são uma espécie de “cavalo de Troia” para o MAS e Evo Morales, após diversos setores sociais próximos ao partido governista terem manifestado apoio a ele, o que Paz negou.
Seu slogan de campanha tem sido “Capitalismo para Todos”, com empréstimos “baratos” para empreendedores, reduções de impostos e tarifas para importação de tecnologia e veículos, além do fim do “Estado tranquilo” e da destinação de 50% do orçamento geral diretamente para as nove regiões bolivianas.
Outra de suas promessas de campanha é a legalização dos veículos “chutos” (sem documentos), criticada especialmente no Chile, onde há relatos de que muitos desses carros foram roubados naquele país e vendidos no país andino. Paz garante que os carros roubados serão devolvidos ao local de origem.
Ele também descartou “ir ao exterior pedir dinheiro” porque não quer que “a Bolívia seja escrava de nenhum banco internacional” e prometeu que o país terá o combustível que atualmente lhe falta em 8 de novembro, dia da posse presidencial.
Paz se propõe a reverter crise na Bolívia
De sua sede de campanha em La Paz, Rodrigo Paz agradeceu aos eleitores pelo apoio e reconheceu o gesto de seu rival, Quiroga, que aceitou os resultados.
“Hoje, Rodrigo Paz não vence, a Bolívia vence. Em uma democracia, todos nós vencemos”, disse ele em sua primeira mensagem após tomar conhecimento dos resultados do Sistema de Transmissão de Resultados Preliminares (Sirepre).
O companheiro de chapa de Paz, Edman Lara, advogado de 39 anos e ex-policial, comemorou a vitória da dupla na cidade de Santa Cruz, afirmando que “é um momento de fraternidade e reconciliação”.
Paz assumirá o cargo em um clima econômico desafiador, marcado pela falta de dólares, escassez de combustível e aumento dos preços das commodities — desafios que definirão o início de sua administração.
Em seu discurso de vitória, Rodrigo Paz destacou as principais prioridades de seu governo: abrir a Bolívia para o mundo, reconstruir a confiança interna e enfrentar a crise econômica que atingiu duramente as famílias bolivianas.
“Devemos abrir a Bolívia ao mundo e recuperar um papel que perdemos geopolítica e economicamente nas últimas duas décadas”, afirmou, expressando sua gratidão pelas mensagens de felicitações enviadas por vários presidentes da região e pelo apoio expresso pelos Estados Unidos por meio do vice-secretário de Estado, Christopher Landau.
Paz enfatizou que seu governo terá “as mãos estendidas tanto dentro quanto fora” para trabalhar com todos os setores — social, empresarial e parlamentar — que desejam contribuir para o avanço do país.
“A nova dimensão da Bolívia será construída por meio da unidade, do diálogo e do esforço compartilhado”, afirmou
Fique conectado