A Brava Energia (BRAV3) anunciou nesta quarta-feira (6), dia em que divulga os resultados do segundo trimestre deste ano (2T25), um acordo financeiro relevante que pode mudar a percepção do mercado sobre a companhia. A empresa acertou a antecipação de recebíveis com a Yinson, operação que resultará em um ingresso imediato de US$ 260 milhões em caixa e geração de aproximadamente US$ 40 milhões em créditos fiscais, segundo a XP Investimentos.
O acordo envolve contas a receber que estavam no balanço da Brava com valor nominal de cerca de US$ 410 milhões. A monetização com desconto traz uma perda contábil de US$ 150 milhões, mas essa diferença gerará um benefício fiscal relevante, parte do qual poderá ser usado ainda neste ano.
Apesar da boa notícia, o mercado parece não ter ficado animado. Às 14h30 (horário de Brasília), as ações da companhia caíam 1,48%, a R$ 19,98.

A XP avalia que o efeito líquido é positivo, com impacto direto sobre a liquidez e a alavancagem da companhia, que ao final do primeiro trimestre estava em 3,4 vezes a relação entre dívida líquida e Ebitda acumulado em 12 meses (LTM, na sigla em inglês).
Com a operação, diz a corretora, o fluxo de caixa da Brava melhora, e a estrutura de capital se torna mais simples. O histórico dessa dívida tem origem no projeto do navio-plataforma (FPSO, na sigla em inglês) Bravo, que foi financiado originalmente pela Enauta (empresa que se fundiu com a 3R Petroleum para dar origem à Brava).
Na época, a Yinson venceu a licitação para operar o ativo, mas não tinha os recursos necessários para as adaptações. A Enauta, então, financiou parte da aquisição e do investimento no FPSO. Agora, com o pré-pagamento desses recebíveis, o modelo volta ao padrão do setor: o arrendador detém o ativo e cobra taxas de leasing e operação.
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A antecipação de receitas se soma a outros movimentos de reorganização financeira. A Brava emitiu US$ 500 milhões em debêntures locais com custo de 8,7% ao ano em dólares para quitar dívidas anteriores mais caras, como a debênture da 3R Potiguar (CDI + 3,8%) e parte da primeira emissão da Enauta (CDI + 4,25%).
O que esperar do 2T25 de BRAV3?
Em paralelo, o mercado acompanha a divulgação dos resultados do 2T25 da empresa no fechamento do dia. O Bradesco BBI projeta um Ebitda de R$ 1,35 bilhão, alta de 26% na comparação com o primeiro trimestre, apoiada principalmente pelo aumento da produção nos ativos offshore. Segundo o banco, o trimestre marca o início de uma virada no fluxo de caixa da petroleira, com expectativa de que a alavancagem comece a ceder gradualmente.
A Genial Investimentos reforça essa leitura. A corretora vê o trimestre como decisivo para que a Brava inicie a geração de caixa, com apoio da estabilização do campo de Papa-Terra e da recuperação do preço do petróleo tipo Brent, que operou próximo de US$ 60 o barril ao longo dos últimos meses. A empresa estima que os investimentos da Brava em 2025 fiquem em torno de US$ 450 milhões.
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As projeções divulgadas na última teleconferência indicam que a dívida líquida deve encerrar o ano entre 1,7 e 2,3 vezes o Ebitda, uma redução relevante em relação ao patamar atual.
Já a XP estima uma receita líquida de R$ 3,1 bilhões e lucro líquido de R$ 1,139 bilhão no trimestre. O crescimento da produção total, que chegou a cerca de 86 mil barris de óleo equivalente por dia (boed, na sigla em inglês), com avanço de 21% na base trimestral, contribui para uma alavancagem operacional mais favorável.
O mercado, que vinha desconfiando da Brava após a fusão que criou a nova companhia, parece ter começado a mudar de opinião. Em julho, as ações BRAV3 subiram 13,45%, enquanto os papéis da PRIO (PRIO3) recuaram 0,5% e os da PetroRecôncavo (RECV3) caíram 6,35%.
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Para o Bradesco BBI, essa performance se explica justamente pela expectativa em torno dos resultados desta quarta-feira e pela sinalização de que a empresa chegou ao pico de alavancagem. A estimativa é que a relação dívida líquida/Ebitda LTM passe de 3,4 vezes no 1T25 para 3,2 vezes no 2T25, em linha com uma geração de caixa estimada em US$ 20 milhões no trimestre.
Confira:
Com isso, o banco acredita que a Brava será o destaque do setor de petróleo e gás na temporada de resultados da América Latina. A administração deve reforçar na teleconferência com analistas que a desalavancagem tende a acelerar no segundo semestre de 2025.
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A avaliação da XP é semelhante: mesmo com riscos ligados a flutuações no Brent ou à estabilidade da produção, a combinação de aumento de produção, reforço de caixa, benefícios fiscais e reorganização de passivos cria uma janela de melhora para a percepção dos investidores.
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