Nos últimos meses, artistas consagrados do cenário do funk anunciaram mudanças significativas na carreira, trocando os palcos por uma nova caminhada na música gospel. O caso mais recente é o de Jottapê, também conhecido pela série Sintonia, da Netflix.
No início deste ano, durante um evento da série, o cantor fez a última apresentação antes da mudança. Ao final do show, Jottapê exibiu uma placa com uma mensagem sobre Jesus Cristo e compartilhou um testemunho com o público.
“Por muito tempo eu corri atrás de tudo, eu consegui tudo isso, mas eu tinha um vazio enorme dentro de mim. E graças a Deus hoje eu não tenho mais”, disse ele, na ocasião.

Jottapê
Reprodução/Redes sociais

Jotappê como Doni em Sintonia
Helena Yoshioka/Netflix

Jottapê
Foto: Suburbano
Quem também fez um movimento semelhante foi Tati Zaqui. No final de 2023, ela revelou que começou a repensar sobre a vida após um relacionamento conturbado com Thomaz Costa, marcado por agressões físicas, ameaças e abuso psicológico.
“Eu amo cantar e, hoje, mais do que tudo, eu amo cantar para Deus. Não está nos meus planos profissionalizar isso. Se for da vontade de Deus, se ele quiser fazer a obra dele em mim para que eu seja uma cantora, para eu começar a louvar, aí vai ser da vontade dele”, desabafou Tati, na época, antes de mudar efetivamente para o gospel.
A mudança de Tati não se restringiu à música: ela também adotou um novo estilo de vida: mudou o visual, retirou piercings e alterou o cabelo. Além disso, ela encerrou a produção de conteúdos eróticos na internet.
Principal motivo da mudança
Segundo o musicólogo Thiago de Souza, mais conhecido como Thiagson, a transição de artistas do funk para o gospel não é um fenômeno novo. Ele explica que essa mudança está enraizada na vivência religiosa presente nas periferias, onde as músicas do gênero são produzidas.
“As periferias onde o funk é feito são cercadas por uma morada religiosa. Muitos MCs e produtores de funk, inclusive produtores de putaria, do ‘mandelão’ — que é o tipo de funk que toca nos bailes de favela — são da igreja evangélica”, destacou.
Thiagson cita como exemplo o DJ Yuri Martins, conhecido por produzir grandes sucessos, como: Vai Embrazando, Quem Diria, A Gente Terminou e Coração Amoleceu. “Ele diz que é da igreja e que não gosta de produzir putaria, porque não consegue mostrar as músicas para a família, para os filhos, porque todo mundo é da igreja, inclusive ele, que só ouve gospel.”
“São alguns exemplos para que a gente perceba a proximidade do funk com as igrejas, porque as periferias não tem esse oposto, do funk com a moral religiosa. Na verdade, o funk se alimenta dessa moral religiosa. Inclusive, para chocar, precisa ter os valores morais bem assimilados.”
O gospel é mais lucrativo?
Outro motivo que influencia na troca de carreira é o mercado. Segundo Thiagson, “o mercado do funk é muito jovem, instável e inconsistente, e uma vez que o artista faz um trabalho de sucesso, é difícil se manter na carreira”. Esse cenário também explica o sumiço de muitos artistas.
Um dos exemplos mais marcantes dessa transição é o da cantora Perlla, que ganhou destaque nacional na década de 2000 com sucessos como Tremendo Vacilão, Eu Vou e Menina Chapa Quente.
Hoje, Perlla segue uma vida voltada à fé e atua como cantora gospel. Nas redes sociais — onde reúne mais de 2 milhões de seguidores — ela compartilha mensagens religiosas, pregações e reflexões sobre a jornada espiritual.
“O gospel tem mais estrutura do que o funk que, apesar de ter mais audiência, sucesso e visibilidade, vem acompanhado de uma perseguição moral. Isso reflete também na vida das pessoas, entre os familiares, e acompanha uma vida completamente instável.”
Por outro lado, uma possibilidade é que a crença dos artistas mudem o estilo de vida. “Muitas igrejas agora estão trabalhando com essa ideia da prosperidade, essa ideia neoliberal que seduz muita a gente.


Cantora Perlla
Reprodução/Redes sociais

Cantora Perlla
Reprodução/Redes sociais

Cantora Perlla
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