O aumento da tensão entre Washington e Caracas coloca a Venezuela de volta ao radar geopolítico global, o que acende alertas para os mercados emergentes, especialmente o Brasil. Preços de commodities, flutuações cambiais e percepção de risco dos investidores podem sofrer impactos diretos com o acirramento, mesmo que o país não esteja envolvido diretamente.
É o que avalia Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, indicando possíveis ajustes de curto prazo em setores como energia, transporte e indústria, o que exige atenção à gestão de riscos e monitoramento constante do cenário regional.
Desde o mês passado, o governo de Donald Trump vem reforçando sua operação militar no mar do Caribe, próximo à costa da Venezuela, sob a justificativa de combater o tráfico internacional de drogas. O presidente Nicolás Maduro acusa os EUA de planejar uma invasão para derrubar o regime chavista.
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Nesse cenário, Cruz prevê que o preço internacional do petróleo reagiria rapidamente a qualquer escalada do conflito. Ele explica que apesar da produção venezuelana estar abaixo do auge devido à estatização e à deterioração da Petróleos de Venezuela S. A. (PDVSA), o país segue relevante nas exportações para China, Índia, Turquia e Espanha.
“Em um cenário de guerra, a oferta global seria reduzida, elevando o preço de equilíbrio”, comenta.
Combustíveis e câmbio prejudicados
No Brasil, combustíveis, transporte e insumos industriais pressionariam a inflação, atrasando cortes de juros e aumentando custos para empresas e famílias. Dada a maior incerteza e volatilidade no curto prazo, investidores devem revisar portfólios e estratégias cambiais.
Além disso, a instabilidade teria efeito sobre o câmbio e os indicadores de risco-país. “O real dificilmente funcionaria como refúgio regional e poderia sofrer com a aversão a risco. Investidores estrangeiros reduziram exposição a ativos emergentes, fortalecendo o dólar e elevando prêmios de risco em renda fixa”, projeta o especialista.
O Credit Default Swap (CDS) brasileiro também reagiria rapidamente, mostrando a incerteza sobre estabilidade política e econômica.
Cruz avalia que oscilações bruscas poderiam alterar decisões de investimento, especialmente em setores estratégicos, exigindo maior diversificação e proteção de portfólio. Para as empresas, seria necessário adaptar estratégias para lidar com cenários de maior volatilidade e instabilidade internacional.
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Oportunidades indiretas para o Brasil
Mesmo diante de cenário adverso, Cruz afirma que existem oportunidades indiretas para o Brasil. Uma nova rota de energia e comércio na América Latina pode ser desenhada em caso de sanções americanas e fragilidade da Venezuela.
Com o avanço da Margem Equatorial, por exemplo, e a posição de exportador líquido de petróleo, o Brasil pode ganhar relevância no mercado regional de energia.
“O agronegócio e a indústria poderiam se beneficiar da maior demanda por alimentos e bens intermediários caso as rotas venezuelanas sejam interrompidas. Setores mais resilientes podem apresentar oportunidades estratégicas em exportações e mercados regionais”, avalia o estrategista-chefe da RB Investimentos, reiterando que a situação cria alternativas de negócios e pontos de estabilidade econômica no continente.
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Por outro lado, um conflito prolongado elevaria custos logísticos e de transporte, limitando parte dos ganhos potenciais. Para o especialista, o efeito dependerá da duração e intensidade do conflito, além da capacidade do governo de manter estabilidade fiscal e previsibilidade nas contas públicas.
Já o preço dos ativos brasileiros pode ser alvo do risco político caso os EUA cobrassem posicionamento diplomático do país. Para o especialista, o alinhamento ideológico do governo brasileiro, que recentemente parabenizou Nicolás Maduro, adiciona complexidade ao cálculo diplomático.
No entanto, ressalta que esse fator ainda está fora do radar, mas poderia alterar a forma como investidores estrangeiros avaliam o Brasil. “Situações desse tipo podem elevar a percepção de risco e gerar ajustes em câmbio, títulos e ativos estratégicos, influenciando decisões de investidores internacionais”, explica.
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Para além dos conflitos no continente, recentes alertas sobre drones não identificados na Europa indicam que a Rússia testa limites da OTAN e o tempo de resposta do Ocidente. Gustavo Cruz avalia que um avanço sobre países bálticos elevaria o preço do gás e provocaria nova volatilidade, com reflexos em mercados emergentes.
“Com cenários complexos como os da Venezuela e a escalada geopolítica global, ajustes de portfólio, hedge cambial e estratégias setoriais tornam-se ferramentas centrais”, destaca o estrategista. Ele ainda reforça a importância de rever as estratégias do portfólio com a escalada das tensões, especialmente para empresas com investimentos no exterior.
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