
A ideia de largar o emprego tradicional para viver do mercado financeiro é o desejo de muitos traders iniciantes. Mas, segundo os traders José Mograbi e Lucas Azevedo, o caminho para essa transição deve ser calculado com prudência e planejamento — e não guiado pela pressa de “fazer dinheiro”.
Convidados do episódio 72 do programa GainDelas, no canal GainCast, os dois profissionais compartilharam suas experiências sobre a migração de carreira, destacando que o sucesso no trading depende de estrutura, preparo psicológico e tempo de maturação.
Três anos de despesa paga
Mograbi, que construiu trajetória sólida no mercado após anos de trabalho como executivo, foi direto ao ponto.
“Minha opinião: três anos de despesa paga. Se sua despesa é de R$ 10 mil por mês, precisa de R$ 360 mil guardados. Não tem isso? Então não dá”, orienta.
Para ele, essa reserva é o que dá fôlego ao trader até atingir consistência.
O trader reforça que a transição não deve acontecer por impulso.
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“Você não vai começar a operar bem porque você não tá mais no seu trabalho. Isso é uma falácia. Você vai operar bem por conhecimento e prática. Não significa que do dia para a noite que você saiu do teu trabalho, você ganhou conhecimento e prática”, alerta.
A mensagem de Mograbi é clara: trocar de profissão sem preparo é trocar um problema por vários.
“A pessoa chega num estresse tão grande, ‘estou estressado, isso aqui não dá, não consigo mais ver isso aqui’. Aí o mercado não funciona. Você cria dois problemas. Você tinha um que era o estresse; agora você tem o estresse, a falta do dinheiro que pingava todo mês e você ainda tá no mercado que também não dá”, observa.
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Para ele, a pressa e o romantismo em torno da liberdade financeira costumam ser grandes armadilhas. O mercado, segundo Mograbi, não oferece garantias, e o simples fato de estar mais disponível para operar não significa que os resultados aparecerão.
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Psicologia pesa quando o mercado vira obrigação
Azevedo compartilha da mesma opinião e acrescenta que o fator psicológico pesa ainda mais quando o trader depende exclusivamente do mercado para pagar as contas.
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“Quando você sai do trabalho, você vai ter mais tempo para se dedicar, vai estudar mais, só que a sua pressão psicológica talvez seja maior. Porque aquilo vira sua única fonte de renda e talvez o seu único escape de uma situação que você considera ruim”, observa.
Segundo ele, a comparação com casos extremos — de pessoas que largaram tudo e deram certo — pode levar a decisões impulsivas. Azevedo propõe um modelo de transição mais gradual, especialmente viável para quem tem flexibilidade de horário ou atua em profissões que permitem essa adaptação.
“Eu vejo muita gente que faz essa transição quando é do Uber, trabalha de iFood, moto. É uma transição muito mais fácil. Porque o cara não precisa pegar ali o CLT dele e falar: ‘pô, tchau’, e fazer uma mudança radical”, explica.
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Nesse tipo de cenário, o trader iniciante pode ajustar sua agenda aos poucos e ir testando sua consistência sem abrir mão da estabilidade financeira.
“Ele começa às vezes dedicando menos horas ali de rodar e está ali dedicando [ao mercado]. Então, quando ele vê que está dando mais resultado, ele pode fazer essa transição. É algo muito mais seguro”, conclui Azevedo.
O ponto de convergência entre os dois é claro: trocar de carreira não é uma questão de coragem, e sim de estrutura. É preciso tempo, reserva, autoconhecimento e um plano claro para lidar com os inevitáveis altos e baixos.
“A importância da reserva te dá esse tempo para adquirir isso. Te dá gasolina para você soltar a marra do porto e se lançar no mar aberto”, afirma Mograbi.
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