O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta quarta-feira (15) que autorizou a CIA a realizar operações secretas na Venezuela.
A informação havia sido antecipada pelo New York Times, que descreveu a decisão como uma ampliação dos poderes da agência para conduzir ações “letais” contra integrantes do governo chavista, de forma autônoma ou em conjunto com as Forças Armadas dos EUA.
A autorização representa uma escalada da pressão contra o regime do ditador Nicolás Maduro, permitindo à CIA agir dentro ou fora do território venezuelano. Trump confirmou a medida em entrevista na Casa Branca, afirmando que “a Venezuela está sentindo a pressão” e que o regime de Maduro estaria “esvaziando prisões para enviar criminosos aos Estados Unidos”.
A operação se soma ao envio de oito navios de guerra e um submarino nuclear para o Caribe, além de caças F-35 baseados em Porto Rico, que já destruíram embarcações ligadas a cartéis de drogas venezuelanos, segundo o governo americano.
“Temos o mar sob controle”, disse Trump, acrescentando que não descarta ações terrestres “porque as drogas e o crime vêm de lá [da Venezuela]”.
Atuação da CIA na América Latina
A América Latina foi uma das regiões de maior atividade da CIA fora da Europa. Em 1954, a agência conduziu a chamada Operação PBSUCCESS na Guatemala, que depôs o então presidente Jacobo Árbenz, apoiado por comunistas locais. O governo dele havia iniciado naquele momento uma reforma agrária que atingia os interesses da norte-americana United Fruit Company. A CIA treinou forças rebeldes, lançou amplas campanhas de desinformação e organizou transmissões de rádio para dar a impressão de um levante popular. Árbenz acabou renunciando e deixando o país.
Em 1961, o alvo foi Cuba. Após a revolução que levou Fidel Castro ao poder, a CIA organizou e treinou um grupo de exilados cubanos para a Invasão da Baía dos Porcos, tentativa fracassada de derrubar o regime comunista. O fracasso levou Washington a intensificar ações secretas posteriores conhecidas como Operação Mongoose, que incluíam sabotagens e planos de assassinato contra Castro.
No Brasil, em 1964, documentos citados por historiadores apontam que agência americana acompanhou de perto o movimento que depôs o então presidente João Goulart.
A Guiana também entrou na mira da CIA nos anos 1960, quando o país, ainda sob domínio britânico, caminhava para a independência. O líder Cheddi Jagan, de orientação socialista, havia sido eleito primeiro-ministro e mantinha contatos com membros de partidos comunistas do leste europeu. Temendo que o território se tornasse uma nova base comunista no Caribe, a CIA teria atuado financiando greves, campanhas opositoras e movimentos sindicais anticomunistas para desestabilizar o governo. A pressão política e econômica contribuiu para a queda de Jagan em 1964, antes da independência, e abriu espaço para a formação de um governo mais pró-Ocidente.
Uma década depois, em 1973, a CIA voltou a agir de forma decisiva no Chile. Documentos revelados na década de 1990 mostram que a chamada Operação FUBELT da agência financiou partidos de oposição no Chile e articulou greves e campanhas econômicas para enfraquecer o governo socialista marxista de Salvador Allende. O apoio culminou em um golpe militar liderado por Augusto Pinochet que pôs fim ao governo Allende.
Na Bolívia, documentos apontam que agentes da CIA cooperaram com o Exército local na caçada ao guerrilheiro comunista Ernesto “Che” Guevara em 1967, quando o guerrilheiro tentava organizar uma revolta inspirada na revolução cubana. Guevara foi capturado e executado.
Em 1975, a agência teve papel indireto em supostas operações na Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia que serviram para monitorar militantes de esquerda e extrema-esquerda. Documentos desclassificados posteriormente apontam que a CIA teria compartilhado informações e fornecido apoio técnico para as operações.
Nos anos 1980, a Nicarágua foi o novo alvo da CIA, que financiou e treinou os rebeldes contra o então governo sandinista de Daniel Ortega, apoiado por Cuba e pela União Soviética.
Durante o mesmo período, em El Salvador, a agência apoiou o governo local em sua luta contra a guerrilha marxista FMLN, fornecendo inteligência e treinamento militar. O conflito no país durou mais de uma década, deixou dezenas de milhares de mortos.
Padrão global das intervenções
Em 1953, a CIA teria apoiado a derrubada do primeiro-ministro iraniano Mohammad Mossadegh, que havia nacionalizado a indústria petrolífera e se aproximado da União Soviética. A chamada Operação Ajax, que teria sido conduzida em parceria com o serviço britânico MI6, restaurou o xá Reza Pahlavi, que voltou a aproximar o país do Ocidente.
Na República Democrática do Congo, em 1960, a CIA apoiou forças locais e belgas na deposição do então primeiro-ministro Patrice Lumumba, acusado de simpatizar com União Soviética. O episódio terminou com a sua execução e a ascensão de Mobutu Sese Seko, aliado de Washington.
A CIA também agiu na Indonésia em 1965, quando o país vivia um momento de forte instabilidade sob o governo do então presidente Sukarno, líder nacionalista que tentava equilibrar alianças entre o Ocidente e o bloco comunista. À época, o Partido Comunista da Indonésia (PKI) era o maior fora da União Soviética, com milhões de militantes e influência crescente sobre o governo. Após uma tentativa de golpe atribuída ao PKI, o general Suharto assumiu o comando do Exército e iniciou uma ampla campanha de repressão aos comunistas. Documentos desclassificados indicam que a CIA forneceu listas de integrantes e dirigentes do partido às forças armadas indonésias, que as usaram para organizar diversas prisões e execuções.
Na África, documentos citados pela mídia internacional apontam que a CIA também financiou grupos rebeldes contra o movimento marxista MPLA durante a guerra civil em Angola (1975–1991), buscando conter a influência soviética e cubana.
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