Com a agenda de indicadores esvaziada, o mercado financeiro brasileiro deve continuar repercutindo nesta quarta-feira (24) os sinais políticos vindos de Nova York, que levaram o dólar a encerrar a véspera em forte queda de 1,11%, cotado a R$ 5,277, o menor valor em mais de um ano. Já o Ibovespa, principal índice da B3, renovou recorde de fechamento ao subir 0,96%, atingindo 146.509 pontos, depois de alcançar 147.178 pontos no pico do pregão.
O movimento foi atribuído, em grande parte, à declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, que se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elogiando o brasileiro. Os dois líderes, que não dividiam o mesmo espaço desde que Washington endureceu tarifas contra o Brasil em maio, tiveram uma breve conversa e acenaram com a possibilidade de um encontro já na próxima semana. O gesto foi lido como abertura de diálogo, trazendo alívio às tensões comerciais e diplomáticas entre os países.
Trump afirmou que houve “excelente química” no encontro com Lula e sinalizou que poderá rever tarifas aplicadas sobre produtos brasileiros. A fala animou investidores que operavam com cautela desde a ampliação das sanções dos Estados Unidos contra autoridades brasileiras. Para analistas, até mesmo a simples disposição de ambos em conversar já abre margem para negociações futuras.
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Em indicadores, sai a confiança do consumidor brasileiro de setembro. Nos Estados Unidos, a agenda inclui discurso de Mary Daly, integrante do Fomc (Federal Open Market Committee, o comitê de política monetária do Fed).
No campo corporativo, as ações do Alibaba dispararam nas negociações de pré-mercado em Hong Kong e nos EUA, após a empresa anunciar novos investimentos em inteligência artificial e lançar produtos e atualizações de IA. O CEO Eddie Wu afirmou que a companhia planeja aumentar os gastos em modelos de IA e desenvolvimento de infraestrutura, além dos US$ 53 bilhões anunciados em fevereiro para os próximos três anos.
Agenda
A agenda do presidente Lula em Nova York inclui às 11h a segunda reunião do evento “Em Defesa da Democracia, Combatendo Extremismos” na sede das Nações Unidas. Às 15h, a Sessão de Abertura do Evento Especial sobre Clima para Chefes de Estado e de Governo também na ONU. Às 16h15, uma entrevista coletiva à imprensa.
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Brasil
- 8h – Confiança do consumidor (setembro)
EUA
- 17h10 – Discurso de Mary Daly, membro do Fomc
INTERNACIONAL
Encontro Lula x Trump
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, informou que Lula e Donald Trump devem se reunir na próxima semana de forma remota, por telefone ou videoconferência. O encontro foi agendado após o breve contato entre os líderes na Assembleia-Geral da ONU, onde Trump comentou sobre a “excelente química” com o brasileiro. Lula afirmou estar sempre aberto ao diálogo, e detalhes do encontro ainda serão definidos.
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Sem garantia
O Federal Reserve (Fed, banco central americano) cortou os juros na semana passada para a faixa de 4% a 4,25%, mas o presidente da instituição, Jerome Powell, adotou discurso cauteloso ao indicar que novos cortes não estão garantidos. Ele disse que reduzir demais poderia comprometer o combate à inflação, que tem meta de 2% ao ano.
Visto americano
A cobrança extra de US$ 250 (R$ 1.323) para emissão de visto americano, que passaria a valer em outubro, foi suspensa temporariamente após negociações com o Congresso dos Estados Unidos, informou a U.S. Travel Association. A entidade, que representa o setor de turismo, disse que busca tornar a decisão definitiva e evitar que a tarifa entre em vigor. Hoje, o custo do visto é de US$ 185 (R$ 979), sem contar a taxa adicional de US$ 24 (R$ 126,96) referente ao formulário I-95.
US$ 4 bilhões
O Banco Mundial vai antecipar US$ 4 bilhões (R$ 21 bilhões) à Argentina, em apoio ao governo de Javier Milei, após acordo firmado em abril. A medida busca aliviar a crise cambial e reforça a maré de respaldo internacional ao presidente. Em Nova York, Milei se reuniu com Donald Trump e deve encontrar ainda Kristalina Georgieva, diretora do FMI.
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ECONOMIA
Imposto de Renda
Renan Calheiros (MDB-AL) apresentou na CAE um projeto que corrige a tabela do Imposto de Renda, criando isenção para salários de até R$ 5.000 e descontos graduais até R$ 7.350. A proposta rivaliza com o texto do governo que tramita na Câmara e reacende o embate político com Arthur Lira (PP-AL). O senador incluiu ainda um programa de regularização tributária para pessoas físicas de baixa renda.
Selic
A ata divulgada ontem pelo Copom reforçou que o Banco Central (BC) pretende manter a Selic, taxa básica de juros, em nível elevado por período prolongado para garantir que a inflação siga em direção à meta. A Selic está em seu maior patamar em duas décadas, o que torna o Brasil atrativo para investidores estrangeiros em operações conhecidas como carry trade. Nesse tipo de estratégia, recursos são captados em países com juros baixos, como os Estados Unidos, e aplicados em ativos de renda fixa mais rentáveis, como os brasileiros.
Tarifaço
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou a decisão dos Estados Unidos de sobretaxar produtos brasileiros, chamando-a de “tiro no pé” por encarecer a vida do consumidor americano. Ele afirmou que a guerra comercial pode abrir espaço para reformas internas e destacou que metade das commodities afetadas já foi redirecionada para outros mercados. Ao mesmo tempo, ressaltou que a reforma do Imposto de Renda, que ampliará a faixa de isenção até R$ 5.000, será sancionada em breve e beneficiará milhões de brasileiros, dentro de um pacote de medidas voltadas à redução da desigualdade.
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Arrecadação federal
A arrecadação federal caiu 1,5% em agosto na comparação com o mesmo mês de 2024, somando R$ 208,8 bilhões, primeira retração no ano. O recuo foi atribuído à desaceleração da economia e a mudanças no calendário de recolhimento de tributos, afetando especialmente Imposto de Renda, CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido), Pis/Cofins, IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e Imposto de Importação. No acumulado de janeiro a agosto, porém, a receita totalizou R$ 1,889 trilhão, 3,73% acima do ano anterior em valores corrigidos pela inflação.
POLÍTICA
Lula na ONU
No discurso de Lula na Assembleia-Geral da ONU, o presidente criticou indiretamente os Estados Unidos e medidas do governo Trump, como sanções unilaterais, interferência no Judiciário e bloqueio de instituições multilaterais. Ele defendeu a soberania brasileira, multilateralismo, justiça tributária global e regulamentação de plataformas digitais e inteligência artificial. Lula também condenou ações em Gaza, vetos dos EUA na ONU e políticas de imigração, defendendo paz, direitos humanos e liderança internacional responsável.
Anistia
O deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do projeto que reduz penas de condenados pelos atos golpistas, afirmou para a reportagem da Folha de S.Paulo que os elogios de Donald Trump a Lula não mudam seus planos, mas podem impactar o PL, partido de Bolsonaro, que busca apoio americano para uma anistia ampla. Para Paulinho, a declaração pode reduzir a pressão do PL e favorecer a proposta do centrão de apenas diminuir as penas, sem perdão total. Apesar disso, bolsonaristas seguem defendendo o perdão a Bolsonaro e podem apresentar emenda para levar a decisão ao plenário da Câmara.
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Insistência
Mesmo após manifestações e críticas pesadas da opinião pública, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) apresentou emenda à PEC da Blindagem para exigir autorização prévia do Congresso antes de investigar deputados e senadores por crimes contra a honra ou opiniões, mantendo investigações por crimes comuns como corrupção. A proposta busca equilibrar imunidade parlamentar e liberdade de expressão, mas enfrenta críticas e mobilização popular contrária. A PEC será discutida nesta quarta-feira (24) na CCJ do Senado, onde parlamentares acreditam ter votos suficientes para rejeitá-la.
Processo aberto
O Conselho de Ética da Câmara abriu processo contra Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por ataques ao STF e ameaças às eleições de 2026. O relator será escolhido entre três deputados sorteados, incluindo dois de oposição e um do centrão, e Duda Salabert demonstrou interesse em assumir o caso. Eduardo é acusado de atuar nos EUA a favor de sanções ao Brasil para beneficiar seu pai, Jair Bolsonaro, e enfrenta ainda denúncia da PGR por coação e tentativa de abolição do Estado democrático. Hugo Motta, presidente da Câmara, negou no mesmo dia sua indicação como líder da minoria, alegando impossibilidade de exercer o mandato do exterior.
Notificação
O ministro Alexandre de Moraes (STF) determinou a notificação de Eduardo Bolsonaro e do jornalista Paulo Figueiredo sobre denúncia da PGR por coação em processos contra Jair Bolsonaro. A intimação deve ocorrer via cooperação internacional, já que ambos estão nos Estados Unidos. Sem a entrega formal, o processo não avança, e a defesa só será apresentada após notificação pelos canais legais entre os países.
Quer ser presidente
Eduardo Bolsonaro afirma que será candidato à Presidência, com ou sem apoio do pai, Jair Bolsonaro. Ele pretende deixar o PL e se filiar a partido menor para concorrer à sucessão de Lula.
Suspensão
A Mesa Diretora da Câmara encaminhou ao Conselho de Ética a suspensão dos mandatos de Marcos Pollon (PL-MS), Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SC), líderes do motim de agosto contra a prisão de Jair Bolsonaro. Outros 11 deputados devem receber apenas censura escrita. A decisão segue o parecer do corregedor Diego Coronel e cabe agora ao Conselho decidir sobre as penalidades.
Eleito
O ministro Flávio Dino foi eleito presidente da Primeira Turma do STF, conduzindo a fase final dos processos sobre a tentativa de golpe de Estado. A eleição simbólica foi unânime, seguindo a tradição de escolher o ministro mais antigo que ainda não presidiu a Turma. Dino assumirá em outubro o lugar de Cristiano Zanin e terá sob sua gestão o julgamento dos demais núcleos da trama golpista.
(Com Reuters, Estadão, O Globo e Agência Brasil)
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