O tarifaço de Donald Trump às importações de produtos brasileiros, que entra em vigor na quarta-feira (6), deve impactar de forma desigual estados e regiões do Brasil. As isenções para 694 produtos, que poderiam ser um alívio para alguns, acabaram aprofundando a vulnerabilidade e discrepância entre estados e regiões (veja gráficos abaixo). É o que aponta um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
Em 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos chegaram a US$ 40,3 bilhões, de acordo com o Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A lista de produtos isentos corresponde 25,6% desse total, chegando a US$ 10,3 bilhões. No entanto, as isenções não chegarão de maneira uniforme aos estados.
O Sergipe, por exemplo, terá 76,2% de suas exportações isentas da nova tarifa de 50%. Maranhão, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul também passam de 50%. Por outro lado, Ceará, Alagoas, Rondônia, Acre, Amapá e Tocantins praticamente ficaram de fora das isenções, com 0,1% ou menos. Os estados do Sul também terão impactos significativos, visto que as isenções pouco se espalham pela produção local: Rio Grande do Sul (8,2%), Paraná (2,7%) e Santa Catarina (0,7%).
De forma geral, as isenções serão significativas para estados que têm as exportações baseadas em commodities e que deverão conseguir conter os efeitos do tarifaço. Em compensação, economias dependentes de produtos de baixo valor agregado e com alta intensidade de trabalho podem sofrer mais.
“As isenções tarifárias concedidas pelos Estados Unidos provocaram uma reorganização parcial do mapa de vulnerabilidade regional brasileiro, aliviando o impacto em algumas áreas, mas sem eliminar os desequilíbrios estruturais existentes”, aponta o estudo do FGV Ibre. “Essa assimetria revela que, apesar de importantes, as isenções não são suficientes para enfrentar as vulnerabilidades intrínsecas do padrão brasileiro de inserção no comércio internacional”, prossegue.
Isenções de tarifas afetam diretamente a Região Sul
A região mais beneficiada, proporcionalmente, com as isenções foi o Centro-Oeste, com 33,8%, totalizando US$ 507,78 milhões. O Nordeste também tem índice alto de produtos isentos (30,3%), o que alivia alguns setores. No entanto, segundo o FGV Ibre, “apesar do bom desempenho percentual, grande parte da pauta exportadora nordestina continua composta por produtos de baixo valor agregado, como frutas frescas, pescados, confecções e calçados” e, com isso, “a parte mais frágil da sua base produtiva continua altamente exposta, o que compromete a efetividade distributiva das isenções.”
O Sudeste, que detém o maior volume absoluto de exportações isentas (US$ 7,55 bilhões), ficou com 26,3% de isenções, com maior alívio para Rio de Janeiro e Espírito Santo e menor para São Paulo. Na Região Norte, por sua vez, somente 17,4% dos produtos ficarão isentos, principalmente pela base produtiva voltada à indústria de transformação e bens intermediários.
A Região Sul é, de acordo com o FGV Ibre, a mais prejudicada, com apenas 4% das exportações isentas (US$ 205,82 milhões). “Essa baixa cobertura reflete a estrutura industrial da região, fortemente baseada em setores como calçados, máquinas, equipamentos e móveis — atividades intensivas em trabalho e com presença marcante de pequenas e médias empresas — que ficaram quase completamente excluídas da rodada de isenções”, destaca o estudo.
Os pesquisadores do FGV Ibre afirmam que “é necessário ir além da análise e partir para medidas objetivas e imediatas” para reduzir os efeitos do tarifaço e compensar a desigualdade com que regiões e estados serão impactados, mesmo com as isenções de quase 700 produtos. Segundo o estudo, são três principais ações a serem tomadas pelos governos federal e estaduais:
- Implementar uma política fiscal compensatória direcionada, com mecanismos temporários de apoio a exportadores regionais prejudicados, priorizando setores de alta empregabilidade e baixa margem unitária;
- Direcionar a política comercial externa, focando na abertura de novos mercados para os produtos mais penalizados, oferecendo suporte técnico para a adaptação regulatória, logística e sanitária dos exportadores;
- Fomentar programas de reconversão produtiva regional, com investimentos em inovação, infraestrutura e certificações internacionais, fortalecendo cadeias locais mais robustas e diversificadas.
Fique conectado