A Raízen, joint-venture de energia entre a Cosan e a Shell, está acelerando o encerramento de ativos no setor de cana-de-açúcar. Depois da venda da Usina Leme, em Leme (SP), agora foi a vez de descontinuar a Usina Santa Elisa, em Sertãozinho (SP). E o movimento deve continuar, com mais três usinas prestes a saírem do portfólio da companhia.
Em maio deste ano, a Raízen vendeu a Usina Leme por R$ 425 milhões para a Ferrari Agroindústria e para a Agromen. Dois meses mais tarde, decidiu parar a operação da Usina Santa Elisa por tempo indeterminado e vender 3,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em um negócio que chega a R$ 1,045 bilhão — seis compradores vão dividir o produto. Essa transação não envolveu a instalação industrial da usina, mas segundo a São Martinho — uma das compradoras — ela também assumirá cerca de 10,6 mil hectares de área com cana-de-açúcar para colher e processar em uma unidade própria.
Fundada em 1914 em Sertãozinho, a Usina Santa Elisa foi adquirida em 1936 pela família Biagi, que revolucionou o setor sucroenergético no Brasil — Maurílio Biagi foi um dos fundadores do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Depois de se juntar à Usina Vale do Rosário e criar a Santelisa Vale no início dos anos 2000, a Santa Elisa acabou sendo vendida para a Biosev, subsidiária da Louis Dreyfus Company (LDC), antes de ser comprada pela Raízen em 2021 em um negócio de R$ 3,6 bilhões que envolveu outras usinas.
Somando a venda no ano passado dos canaviais da Usina MB, em Morro Agudo (SP), a Raízen colocará no caixa cerca de R$ 2,2 bilhões. E, nos próximos meses, deve anunciar a venda ou descontinuidade das usinas de Rio Brilhante (MS), Passatempo (MS) e Continental (SP). Essas também foram compradas da Biosev.
A operação das unidades, porém, não deu o retorno esperado pela Raízen. Somado a isso, a companhia vem enfrentando dificuldades em reduzir a dívida. Ao fim do exercício anterior (2024/2025), a dívida líquida somava R$ 34,3 bilhões, quase 80% superior à do período anterior. Além disso, o prejuízo líquido foi de R$ 2,5 bilhões.
Em nota, a Raízen confirmou que essas movimentações fazem parte da “estratégia de reciclagem de ativos para captura de eficiência agroindustrial”, além da “redução do endividamento”.
VEJA TAMBÉM:
“Negócio da China”: os estrangeiros que compram as maiores minas de ouro ativas do Brasil
Raízen também reduz ativos em geração distribuída
A reciclagem de ativos chegou ao setor de geração distribuída. Em julho, a Raízen anunciou a venda de 55 usinas com capacidade instalada total de 142 MWp (megawatt-pico), sendo 44 para a Thopen e 11 para o Grupo Gera. A estimativa é de que o negócio renda R$ 600 milhões e seja finalizado até março de 2026.
Nesse movimento, a Raízen confirmou o encerramento da joint-venture com o Grupo Gera e afirmou que cumpriu o “objetivo de desenvolver projetos de geração distribuída e soluções de tecnologia relacionadas à contratação, gestão e consumo de energia elétrica.”
Em abril deste ano, a companhia já havia vendido 31 projetos de usinas de geração solar distribuída para a Élis Energia, empresa controlada pelo grupo Pátria — a capacidade instalada dos ativos é de 115,4 MWp. O valor do negócio chegou a R$ 700 milhões.
Fique conectado