Julho foi um mês cheio de emoções para o Ibovespa. Das máximas históricas para a maior sequência de queda diária desde 2023 e baixa mensal de 4,17%, o benchmark da Bolsa teve movimentos expressivos no período, muito guiado pela escalada nas tensões entre o Brasil e os EUA. Com a queda de 4,17%, o Ibovespa colheu sua maior perda desde dezembro (-4,28%), interrompendo sequência positiva entre março e junho.
Até dia 4, os ânimos a princípio estavam apaziguados, com o Ibovespa superando os 141 mil pontos em meio à forte entrada de fluxo estrangeiro e visão positiva geral dos estrategistas de mercado com a visão de um combo de eleições e início do corte de juros já de olho em 2026.
Contudo, desde então, os ânimos se acirraram, afetando o desempenho da Bolsa brasileira. No centro das atenções do mercado estavam as tarifas até aquele momento com percentuais desconhecidos do presidente dos EUA, Donald Trump, a serem reveladas até o dia 9 de julho. A projeção era de volatilidade para os mercados – globais, o que inclui os brasileiros -, mas o desenho que tomou forma foi ainda pior para os ativos domésticos.
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A piora se deu antes mesmo de Trump anunciar, no esperado dia 9, uma tarifa de 50% para o Brasil, muito acima do que o mais pessimista dos analistas projetava.
Alguns sinais de insatisfação de Trump já apareceram antes envolvendo o Brasil, principalmente com a cúpula dos BRICs realizada no país entre dias 6 e 7 de julho. Em discurso na ocasião, o presidente brasileiro Lula defendeu que o bloco encontre alternativas à moeda norte-americana para evitar a intermediação do dólar em transações bilaterais.
“O mundo precisa encontrar um jeito de que nossas relações comerciais não precisem passar pelo dólar”, disse o petista. “Obviamente, temos que ser responsáveis e fazer isso com cuidado.”
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Logo após essas declarações, na noite do dia 6, o presidente dos EUA anunciou que uma tarifa adicional de 10% seria cobrada de países que “se alinharem às políticas antiamericanas do BRICS”, sem dar mais detalhes. Três dias depois, as tensões que se acumularam com as expectativas das tarifas foram concretizadas com o tarifaço de Trump, que vinculou a decisão ao tratamento recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (que está sendo julgado sob a acusação de planejar um golpe de Estado).
Trump informou que haveria negociações com os países para os acordos comerciais, com o encerramento das negociações justamente durante o dia 1 de agosto.
Começou assim uma série de discussões – e de volatilidade – para o Ibovespa, que inclusive culminou com uma viagem de senadores brasileiros para os EUA e notícias sobre novos ânimos acirrados entre o Brasil e o governo americano, mas também sobre possíveis produtos isentos do tarifaço. De qualquer forma, desde então, o índice não encontrou força para subir.
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Enquanto a expectativa era para a declaração de Trump para o dia 1, o governo americano surpreendeu mais uma vez ao anunciar a confirmação de uma tarifa de 50% na última quarta (30), mas animando o mercado na véspera excluindo vários itens de uma tarifa comercial maior para produtos brasileiros, incluindo aeronaves e algumas peças, o que fez as ações da Embraer (EMBR3) dispararem.
O Ibovespa subiu 0,95% na sessão da véspera, após Trump assinar o decreto implementando uma tarifa adicional de 40% sobre o Brasil, elevando o valor total da taxa para 50%, citando as políticas recentes do país com as quais o governo Trump não concorda.
Porém, no último dia do mês, o Ibovespa caiu 0,69, a 133.071 pontos, ainda de olho nas incertezas do mercado e possíveis novas escaladas, fazendo com que o índice acumulasse perdas mensais de 4,17%.
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“Essas exceções trazem um fôlego para alguns setores… mas ainda temos um cenário de incerteza à frente”, disse Pedro Moreira, analista na mesa de renda variável e sócio da One Investimentos, citando que ainda não se sabe como o Brasil responderá às medidas de Trump.
Cabe ressaltar ainda que a tensão política continua, uma vez que o decreto veio no momento em que os EUA anunciaram sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-o de autorizar prisões arbitrárias antes do julgamento e de suprimir a liberdade de expressão.
Assim, apesar do alívio, o mercado segue cauteloso, com os olhos voltados ainda para os EUA e as negociações sobre o tarifaço após um primeiro mês do segundo semestre bastante movimentado.
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(com Reuters e Estadão Conteúdo)
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