
Um dos mais aclamados gestores da atualidade, o americano Howard Marks – sócio-fundador da gestora Oaktree – é um ferrenho defensor dos investimentos de longo prazo. E recorre a uma frase do célebre economista Benjamin Graham para explicar suas razões: “Ele dizia que, no longo prazo, o mercado é uma balança. E, no curto prazo, é uma urna eletrônica”.
A visão de Marks é de que os preços dos ativos se movem com base na popularidade no curto prazo. “Se houver dez investidores e sete escolherem a General Motors, as ações da GM sobem. Já se três escolherem a GM e sete disserem não, as ações caem”, disse ao programa InfoMoney Entrevista. “Não dá para prever isso. Para fazer julgamentos previsíveis e que funcionem, é preciso entender os motores da GM, como a empresa está, como estão as operações e como provavelmente estará no futuro”.
Não é algo simples, ressaltou – e investidores que não estiverem dispostos a estudar com profundidade as empresas em que pretendem investir não podem esperar ser bem-sucedidos.
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“Por que você deveria pensar que uma olhada superficial na GM permitirá que você seja um investidor de sucesso na empresa? Investir não é um esporte, um videogame, um fliperama. É uma busca séria com muito dinheiro envolvido”, afirmou.
Confira alguns dos principais trechos da entrevista abaixo ou a versão integral no player acima.
IM – Em um mundo onde as informações circulam rapidamente e as decisões são tomadas em segundos, como os investidores podem permanecer calmos e racionais para evitar essas decisões emocionais?
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Marks – Conseguir isso é difícil, mas os investidores precisam. Você não pode tomar decisões sérias, como você disse, em poucos segundos. Você não compra uma casa ou um carro em poucos segundos. Por que comprar uma ação em poucos segundos?
É, novamente, uma motivação emocional. É preciso resistir e dizer: “Não há pressa. Vou fazer esse investimento e vou mantê-lo por alguns anos porque acho que é uma ótima empresa”. Não importa se compro hoje, amanhã, daqui a uma semana ou talvez até daqui a um mês. Eu deveria pensar: “Vou dedicar o tempo que preciso para estudá-la e descobrir se é realmente uma boa empresa”.
“Investir não é como comprar uma roupa ou comer em um restaurante. É uma decisão financeira substancial que você deve levar a sério e esperar que dê certo ao longo de vários anos”
Se é uma questão de anos, como acredito, não importa se você compra hoje ou não. A ideia de “se eu não comprar hoje, vou perder porque vai subir amanhã” é estúpida.
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IM – Isso se conecta com sua visão histórica de focar no longo prazo, e não no curto prazo, ao investir.
Marks – Com certeza! Benjamin Graham, que lecionou na Universidade de Columbia e foi professor de Warren Buffett, dizia que, no longo prazo, o mercado é uma balança. E, no curto prazo, é uma urna eletrônica.
O curto prazo funciona com base na popularidade. Se houver dez investidores e sete escolherem a General Motors, as ações da GM sobem. Já se três escolherem a GM e sete disserem não, as ações caem. Não dá para prever isso. Para fazer julgamentos previsíveis e que funcionem, é preciso entender os motores da GM, como a empresa está, como estão as operações e como provavelmente estará no futuro.
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“É um estudo sério. Se você não estiver disposto a fazer esse estudo, não deve esperar sucesso. Se não estiver disposto e quiser participar, pode contratar um gestor ou investir em um fundo”
Por que você deveria pensar que uma olhada superficial na GM permitirá que você seja um investidor de sucesso na empresa? Investir não é um esporte, um videogame, um fliperama. É uma busca séria com muito dinheiro envolvido.
IM – O senhor frequentemente enfatiza a importância de entender os ciclos de mercado. Gostaria de saber quais são os indicadores a que o senhor presta mais atenção para avaliar em que ponto estamos em um ciclo.
Marks – Antes de mais nada, o preço de cada ação sobe e desce. A questão é: o que acontece no longo prazo? O mercado de ações tende a subir. Não de forma consistente, não todos os anos.
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A razão pela qual o mercado às vezes sobe 20% e às vezes zero, às vezes 30% e às vezes fica negativo, é que as pessoas às vezes ficam entusiasmadas, o que faz o mercado subir demais e se tornar perigoso. Outras vezes, ficam deprimidas e vendem, e o mercado vira uma pechincha.
Ao avaliar o ciclo, procuro ver o que está acontecendo no comportamento dos investidores. Estão animados ou deprimidos? Quem está ganhando: otimistas ou pessimistas, confiança ou medo? Isso me diz onde o mercado está no ciclo. É importante saber que ninguém pode prever os movimentos no curto prazo, mas onde o mercado está no ciclo informa sobre o que é mais provável ou menos provável de acontecer.
Novamente, é difícil avaliar o ciclo. Exige trabalho, estudo, expertise, disciplina. As pessoas não devem esperar conseguir fazer isso de uma forma casual e estarem corretas. Elas podem preferir ignorar tudo, investir em ações e manter o investimento. E isso é muito melhor para a maioria delas do que tentar adivinhar onde o mercado está.
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“Quando outras pessoas estão super otimistas, fico preocupado. E quando estão pessimistas, fico animado. Tento fazer o oposto dos erros emocionais delas. Mas a alternativa é simplesmente entrar no mercado e permanecer. Começar enquanto se é jovem, investir e manter o foco no piloto automático de forma consistente, é muito melhor do que tentar entrar e sair conforme o timing, porque é muito difícil acertar”
A propósito, uma pequena propaganda: escrevi o livro Dominando os Ciclos do Mercado. Se as pessoas quiserem entender sobre ciclos, sugiro que comecem lendo o livro.
IM – Quais seus conselhos aos investidores brasileiros?
Marks – Eu amo o Brasil e seu povo, e acredito muito no futuro do Brasil. Se eu fosse um jovem morando no Brasil, gostaria de ter contato com o mercado de ações brasileiro. E gostaria de entrar por meio de uma gestora de recursos ou um fundo, porque eles são os profissionais. O mais importante é não se atrapalhar por negociar demais.
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